quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Maria Joana


A marcha pela legalização da “cannabis” invadiu a capital com cerca de …500 participantes. Quando eu pensava que estava tudo maluco, que este país iria parar ao inevitável sifão, eis que surge este movimento repleto de clarividência, onde a palavra de ordem, entre tambores e apitos, seria “deixem-nos fumar charros à vontade qu’a malta assim é que é feliz!”. Mas eu iria mais longe. A Marijuana, não só deveria ser legalizada, como devia fazer parte da lista de prescrição dos Pediatras como substância potenciadora de um desenvolvimento infantil mais harmonioso. Assim, ao substituir o aerosol por uma vaporização de maconha após o banho, a criança, para além de lhe passar a crise dos brônquios, ficaria de tal forma calma, que já não faria birras para comer a sopa ou fitas a caminho da lavagem dos dentes. E porque razão se deveria estimular este processo de entorpecimento, logo a partir da infância? Porque assim, os jovens viveriam sem ter de lidar com o trauma de perceber a dura realidade que lhes ensombra o quotidiano. Assim, se um tipo fumar umas ganzas logo pela manhã, até acha uma certa graça quando o Primeiro Ministro abre a boca. De facto, os efeitos medicinais da droga, perdão, da erva, são evidentes. Que melhor prova dos benefícios da mesma, senão a forma alegre e despreocupada como aqueles tipos desfilaram no Largo do Rato, sem demonstrarem qualquer sintoma de artrite, hérnia discal, pedra na vesícula, doença bipolar ou gota. Até ostentavam orgulhosos as rastas nos cabelos como que a dizer “o pessoal nem se precisa de pentear porque, com o efeito da maconha, até achamos que estamos bonitos quando nos vimos ao espelho, pá!”. Tenho de confessar que nunca fumei daquilo, mas há momentos em que…, olhem agora estava a lembrar-me da história de todos os partidos (aquela espécie de organização que fala muito de moralização, ética e coisas assim) terem votado um aumento estapafúrdio do seu financiamento, numa época de crise mais ou menos profunda. Com maconha a inebriar-me os sentidos, até poderia achar algum sentido a esta falta massiva de dever cívico; trocava a vontade incontrolada de lhes chamar “filhos da p****” por uma expressão mais descontraída do tipo “É isso bravos heróis, vós precisais de mais verbas para as nobres campanhas que se avizinham”. A manifestação pró-marijuana lá continuou com alegria e o tipo do bloco de esquerda (que está sempre presente em relevantes causas sociais) lá ia dizendo que o consumidor de cannabis não deveria ter de comprar o produto a traficantes de heroína e cocaína. Está encontrada a razão pela qual a maioria dos fumadores de cannabis descambam em consumidores de drogas pesadas. Por falar em drogas pesadas, lembrei-me agora da mais recente declaração do engenheiro Sócrates, que pedia a maioria absoluta… maioria absoluta???...Pela legalização da Cannabis já! Até porque o exemplo deverá vir de cima, e, só um homem profundamente perturbado ou entorpecido pelo efeito de substâncias alucinogéneas poderia proferir uma barbaridade destas, depois da fabulosa governação que empreendeu. Arrisco-me a propor um outro passo ainda mais ambicioso: o da nacionalização da marijuana. Todos sabemos que a nossa agricultura ou não existe, ou, a que existe brevemente deixará de existir. Assim, aproveitar-se-iam os campos abandonados de trigo no Alentejo, para plantar erva em barda. Teríamos de mudar a designação espanholada de “marijuana” para uma mais caseira “Maria Joana”. E a “Maria Joana” espalhava alegria e optimismo por todos nós, considerados os mais tristes e pessimistas da Europa. A vida seria mais fácil, como mais fácil seria aceitar a estirpe de políticos que nos governam. Aprenderíamos a desresponsabilizar ainda mais os tipos, e a responsabilizar ainda mais a erva. “Deixa lá o homem em paz! Então tu não vês que quando o tipo tomou a decisão de avaliar os polícias pelo número de detenções, estava com uma moca do caneco? Aquilo foi na farra, a culpa é da droga …” . Lembrei-me da falada e hipotética formação de um governo central, resultante da união entre os dois partidos rivais. Só com muita Maria Joana nas vias respiratórias, é que conseguiríamos acreditar que essa união se daria por interesses nacionais e não por interesses corporativos de distribuição racional de “tachos” e “panelas”.
Parece ter chegado a altura de se desvendar de uma vez por todas o mistério associado à mítica frase partilhada entre Sócrates e Durão, no meio daquele abraço e do sorriso aquando da assinatura do tratado de Lisboa: Depois de sair aquele espontâneo “Porreiro Pá!...” provavelmente alguém ouviu o resto… “Sabes ó Durão, não há melhor do que a nossa Maria Joana! …Um gajo fica mesmo disposto a dizer, a ver e a ouvir todo o tipo de baboseira…com um sorriso nos lábios”