terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Calças pela canela


A história do gatuno do rabo ao léu deixou-me transtornado. O tipo vai assaltar um minimercado, faz mal os cálculos de relação entre o diâmetro da janela e o diâmetro do seu traseiro, ficando com metade do corpo pronta para colocar as mãos nos produtos alheios e a outra metade a vigiar o exterior. Acontece que as partes incharam, vai daí o tipo ficou empancado pela cintura, na fronteira do tijolo. Cedo percebeu que a metade que ficou do lado de fora ao vento foi claramente uma má opção, pois o olho do rabo é assumidamente cegueta e a própria posição transmitia uma sensação de que “é melhor eu sair rápido antes que alguém faça das suas”. E parece que alguém andou a fazer das suas, naquele rabo desprotegido, enquanto lá permaneceu passivo umas horas até que os bombeiros o tivessem conseguido desencarcerar. Aplicaram-lhe o castigo do antigo professor primário depois do menino dar muitos erros no ditado: baixaram-lhe as calças e arreganharam-lhe umas valentes reguadas nas carnes. Quando se esperava que o ladrão se escondesse envergonhado nos calabouços da prisão, eis que surge de peito aberto pronto para fazer queixa em tribunal do streap tease forçado de que foi alvo. Parece que na Roménia, o seu país de origem, existe uma conduta de cavalheiros para, no caso de um tipo ficar entalado durante um assalto, ninguém lhe baixar as calças, até porque lá faz muito mais frio do que cá. Mas ninguém lhe explicou que agora a moda em Portugal é usar calças no fundo do rabo? Qualquer adolescente que se preze tem de mostrar a sua cuequinha Emporio Armani que custou mais do que a calcinha descaída. “Mas e o desconforto de se ficar entalado na parede?”. É porque não reparou como os jovens caminham também eles desconfortáveis, com os joelhos entalados pelo cinto, imitando pinguins na época do acasalamento. Antigamente só quando um tipo era apanhado pelos pais da namorada é que precisava de fugir assim; agora é preciso o pai da namorada dizer para ele puxar as calças para cima que se vê o selo da cueca. Provavelmente até foi um adolescente empenhado que puxou as calças ao romeno para ele ficar na moda. Só teve pena de não poder fazer-lhe a franja de asno gadelhudo para o gatuno apanhar um torcicolo a tentar tirá-la da frente dos olhos enquanto esperava pelos bombeiros. “E as verdascadas?” Alguém o confundiu com um asno gadelhudo que não obedece ao dono?...
Eu acho que se deveria explicar ao gatuno que, no nosso país ensolarado, o rabo ao léu é rotineiro. Aliás, os jovens apenas se limitam a seguir uma tendência cada vez mais enraizada na sociedade portuguesa do “estar-se a “cagar””. Estar-se a cagar no cidadão, estar-se a cagar no professor, estar-se a cagar nos pais, estar-se a cagar no polícia, , estar-se a cagar no reformado, estar-se a cagar nas escutas, estar-se a cagar para a agricultura, estar-se a cagar no bem alheio. E, na maior parte das vezes, quando se está a cagar em grande, naturalmente o rabo ficará ao léu e as calças descaídas junto às canelas. Portanto o gatuno que não venha “cagar postas de pescada” por ver a sua cueca ao léu e as calças junto às canelas, até porque teve a sorte de não passar naquele momento de aflição, um ávido molestador de ladrões em apuros. Se fosse mesmo inteligente criava uma história ao jeito das inventadas por conhecidas personalidades quando se lhes começa a ver o rabo. Bastaria dizer que gosta de cagar sossegadinho, sem ter de ver outras pessoas nesse seu acto tão intimista. A malta até poderia cair nessa.
Mas apesar do aparente desconhecimento dos nossos hábitos modernos por parte do ladrão Romeno, o tipo parece já conhecer alguns cantos à casa (não o diâmetro das janelas) isto porque já descobriu que neste país pródigo em estimular a “cagadela no próximo”, pune cada vez mais o próximo e cada vez menos o cagão. O grande problema do cagão vai ser agora encontrar testemunhas oculares para as bordoadas no traseiro. Ou ele trata de atribuir dotes de visão ao seu olho do rabo, ou desconfio que, dos muitos olhos que olharam para mãos a dar cacetada na pernoca do rapaz, nenhum terá visto grande coisa. Parece que todas aquelas retinas se estavam a cagar para o ladrão com as calças pela canela.