sábado, 15 de maio de 2010

Alice...naquele...país


Cada vez gosto mais de ler jornais. Para alguém, como eu, que gosta de escrever umas baboseiras, não há fonte mais inspiradora do que a enriquecedora imprensa nacional. Desta vez consegui ler, sem me rir muito, as palavras do tipo (já não o consigo tratar por Primeiro Ministro) depois de uma conversa que teve com o Papa. Dizia ele que “teria sido boa ideia referir a Sua Eminência o facto de Portugal ter tido hoje boas notícias sobre o seu crescimento económico”…? Apressei-me a procurar essas “boas notícias” para ver se me alegrava e não precisei de perder muito tempo, pois na primeira página do mesmo jornal lá estava escrito em letras garrafais: “Sobem todos os impostos”. Aí eu pensei: Mas este gajo (já não o consigo tratar por Senhor Engenheiro) sofre de esquizofrenia e consegue construir um mundo de fantasia no qual acredita, ou está apenas a brincar connosco? Até poderia não ser nenhuma destas hipóteses. Poderia estar a explorar o contra-ponto do “Só é Pena …”. Está um lindo dia de sol,… só é pena que aquele trovão tenha destruído o quadro eléctrico de minha casa; Que enternecedor aquele filme romântico,… só foi pena que a mãe da moça tenha sido esquartejada pelo carteiro; O meu marido é muito meigo,… só é pena aquelas chapadas que me manda quando se chateia por causa da bola; Os meus sapatos novos são extremamente confortáveis,…só é pena ficar com bolhas nos pés cada vez que os uso; Aquele bife de vaca era mesmo tenrinho,…só foi pena ter entortado o garfo para o conseguir cortar. Acho de muito mau gosto os jornalistas não terem esperado para que o indivíduo (já não o consigo tratar por Chefe do Governo) completasse a frase das “boas notícias sobre o crescimento económico” com o “…Só é pena que a taxa de IRS e o IVA subam 1% e assim lixarmos ainda mais o poder de compra da malta, para ver se evitamos a bancarrota!” . O facto dele aspirar dizer ao Papa que o país caminha na direcção do Éden financeiro, revelou toda a sua ambição e enorme lata. Não lhe bastava brincar com toda a população durante largos anos, o homem propunha-se agora levar adiante uma tarefa aparentemente inacessível a qualquer pessoa com algum bom senso e o mínimo de escrúpulos: brincar à descarada com o Chefe Supremo da Igreja. Um sacrilégio em larga escala, muito para além de uma “pêtazita” ao padre da paróquia durante a confissão. Este indivíduo não iria pedir ajuda ao Papa para uma eventual patologia da qual padece: “Eminência, gostaria que me ajudasse com a sua bênção nestas alucinações que me perseguem, da minha imagem vestida de azul passeando num país com cartas falantes, onde brotam riquezas dos caixotes do lixo e das sanitas!”. O homem preparava-se sim para afirmar, sem receio que penitências divinas caíssem sobre a sua cabeça, sem medo de ser expulso a pontapé do reino dos céus, que existiam “boas notícias sobre o crescimento económico” do país. Felizmente, a astúcia do Papa evitou que esta partida se concretizasse. Quando o personagem (já não o consigo tratar por o “homem do leme”) se preparava para lançar a sua patranha sobre a economia nacional, o Papa tratou de o despachar com um educado “Sabe, eu já tenho 84 anos e preciso de descansar para conseguir rezar daqui a pouco a missa das sete!”. Evitou assim ter de dizer “Sabe eu já tenho 84 anos, que são os anos suficientes para não acreditar assim à primeira em tontices sem sentido!”. Com a sua sapiência, o Santo Padre conseguiu contornar a sina de se ver obrigado a ter de facultar a absolvição ao brincalhão da “economia reluzente”, em forma de 5 Avé Marias por cada mentirita proferida durante estes anos de governação. Aí é que ninguém parava o inflamado ego do tipo. “Vejam lá que consegui ludibriar o Papa e ainda recebo a absolvição divina! Agora só tenho de perder um diazito para cumprir a penitência…”.
O Papa achou fantástico o nosso país; que as pessoas são muito disponíveis e crentes. Eu também acho. Só é pena que continuemos a ser governados por este tipo do vestido azul que vive no mundo das cartas falantes…

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A arte de surripiar

Imagem retirada da net

Indignado com a pergunta da jornalista sobre o seu hipotético envolvimento num caso de pedofilia nos Açores, o deputado socialista Ricardo Rodrigues abandonou a sala sem responder a mais perguntas. Depois dessa saída extemporânea, a entrevistadora perguntou ao colega jornalista: “Por acaso não viste uns gravadores que estavam ali em cima da mesa?”; “Eu não! Mas tu queres ver que…” . Isso mesmo, o tal deputado achou piada aos objectos e colocou-os de forma sorrateira no interior dos bolsos das calças, antes de abandonar a sala. Disse depois que tinha “Tomado posse” de dois equipamentos de gravação, que é uma maneira mais cordata de dizer que tinha “gamado” dois gravadores. Fiquei admirado com a indignação geral perante o furto, perdão, a “tomada de posse” dos ditos aparelhos. Então um indivíduo já não pode surripiar uns objectos sonoros que até dão para se ensaiar umas cantigas da Hannah Montana enquanto se faz a barba? Temos de tirar o chapéu ao senhor deputado pela imaculada técnica utilizada. Ele não se limitou a mandar as mãos à bruta aos gravadores alheios; fê-lo de forma perfeitamente despercebida perante o olhar distraído dos interlocutores. Com esta habilidade não passará qualquer tipo de vergonha num confronto com os carteiristas que atacam no Santuário de Fátima. O potencial está à vista. Enquanto o esforçado carteirista tem de distrair a vítima com uma pancada no ombro para conseguir roubar a carteira do bolso das calças, o nosso deputado surripia de forma igualmente eficaz e imperceptível, sem recorrer a qualquer manobra de diversão. No seu acto quase perfeito, existiu apenas uma ponta solta: as imagens de vídeo que nos permitiram ver o artista em acção. Mas mesmo assim foi difícil para nós, comuns mortais sem os ultra-sentidos da mosca, detectar o furto à primeira vista. Foi necessário o recurso a exaustivas repetições das imagens em câmara lenta para que as pessoas menos atentas se apercebessem do gamanço. Nem o ilusionista David Corperfield nos seus melhores tempos, conseguiria rivalizar com a “Técnica R Rodrigues” de ocultação de gravadores de bolso. Que vergonha! Pensaram as pessoas depois de verem o representante de um alto organismo de estado a subtrair… gravadores…(?). Mas o senhor explicou que aquilo foi uma acção irreflectida fruto de uma enorme pressão psicológica. Eu sei que poderá parecer estranho, pois a maioria de nós, quando sujeitos a uma enorme pressão, damos para partir coisas e gritar umas asneirolas. Contudo, temos de admitir que indivíduos descontrolados possam colocar, de forma sub-reptícia, gravadores nos bolsos ao invés de os lançarem contra a parede.Pensando bem, o facto de existir um registo videográfico foi propositado. Com o seu à-vontade a colocar objectos alheios nos bolsos, com alguma facilidade, tropeçaria na mesa e trataria de esconder a câmara de vídeo debaixo da gravata num piscar de olhos. O deputado Rodrigues, ao permitir a divulgação das imagens contribuiu de forma meritória para a sua responsabilidade social. Em primeiro lugar deu para perceber que as mãos dos deputados não são apenas utilizadas para assinar despachos, votar leis em massa, navegar no Facebook, afagar as costas dos amigos ou folhear as páginas da “Nova Gente”. As mãos servem também para “tomadas de posse” de bens alheios. Em segundo lugar, esta generosidade do deputado em partilhar a sua técnica com o comum cidadão, criou uma enorme corrente de esperança. A esperança de que, depois do país cair na bancarrota podermos aspirar a surripiar de forma quase tão eficaz como actividade de subsistência. Talvez por este seu papel social de enorme relevância ele tivesse sido, dias depois do gamanço, nomeado para o Conselho Superior de Segurança Interna. E quem melhor para lidar com a gatunagem, hein?!
Eu já comecei a praticar os ensinamentos do “Manual R Rodrigues” na arte do surripianço e hoje consegui apoderar-me de forma quase imaculada de uma das bolachas “Maria” do meu filho. “Oh pai! Então o que é isto de me gamares uma bolacha!?” . Na verdade a técnica ainda precisa de alguns ajustes…

terça-feira, 4 de maio de 2010

Último Recurso




A imagem do “último recurso” é das mais apaziguadoras que existem em espíritos fustigados pela descrença . “Estas malditas cruzes na espinha, dão-me cabo da paciência! Já fui ao médico de família, ao fisioterapeuta, ao ortopedista, ao fisiatra, ao osteopata e nada! O que me vai valer, vai ser aquele rapaz que é mecânico de motociclos, que dá uns jeitos às costas e a pessoa vem de lá direita que nem um pêro!”. Eis como o “último recurso” transforma um problema sem aparente resolução, numa esperança de cura imediata. É disto que qualquer alma mais pessimista necessita; uma derradeira tábua de salvação; uma mão que o impede de cair no mortífero precipício; uma lufada de oxigénio no meio de um ar rarefeito. Eu também encontrei o meu “último recurso” espalmado entre a escova do pára-brisas e o vidro da frente do meu carro. O Professor Astrólogo Mamadu. Não o próprio, mas um bilhete com toda a sua competência na resolução dos mais intrincados problemas. Numa altura em que já me preparava para aceitar resignado o colapso de um país à beira da bancarrota gerido por incompetentes, precisava do meu “último recurso”. E lá vinha na folhita “para ajudar a encontrar uma solução imediata mesmo os casos mais difíceis ou graves com urgência” …é disto que eu preciso para contrariar o “nada” que me invade o discernimento. O que posso fazer para mandar estes tipos que nos governam apanhar caracóis num campo de minas em Maputo? Nada. O que posso fazer a um gatuno que se apropria dos meus bens? Nada. O que posso fazer quando o juiz liberta o gatuno que se apropria dos meus bens? Nada. O que posso fazer aos corruptos que dizem que não são corruptos e se apropriam dos meus bens? Nada. E é assim, de mãos e pés atados, que me sinto neste momento, o que até nem é mau, porque se não os tivesse atado, ainda ia parar à prisão por ter exteriorizado a minha impotência sob a forma de artes marciais. Mas o Professor Mamadu aparece como último recurso nesta nossa incapacidade de lidar com a ansiedade. Diz no folheto que “resolve problemas…emprego, negócios,…, justiça, …impotência sexual,, fenómenos estranhos…” Era mesmo aí que eu queria chegar, aos fenómenos estranhos. Continuo a achar um estranho fenómeno que, depois de se ter atingido o fabuloso número de 578 mil desempregados, de 45% dos jovens só conseguir arranjar emprego através de cunhas, da bandidagem andar todos os dias a fazer tropelias, se continue a insistir na tal comissão de inquérito para saber se a TVI foi comprada com ou sem conhecimento do senhor, sobre o qual eu não posso fazer nada para o meter num “charter” a caminho de Moçambique. Está claro que o senhor não sabe de nada, nem sabe sequer onde fica o Freeport. Ele afinal sabe de alguma coisa?...ah, sabe que as nossas dificuldades económicas tiveram em tempos ligação com a conjuntura internacional desfavorável e que a nossa anunciada bancarrota é da responsabilidade das empresas especulativas. É bom que o Professor Mamadu para além dos fenómenos estranhos também resolva esta impotência, não a sexual, mas a social, de não se conseguir fazer nada para que os tipos que tomam conta deste petroleiro desgovernado e com permanente fuga de crude, possam ficar a saber alguma coisa de navegação. Sinto que estou um pouco desanimado…o professor Mamadu contrapõe: “Não desanime! Não desista!”, é disto que preciso de ler; uma mensagem positiva; um apelo ao meu espírito combativo. Mas, e se…o professor Mamadu não conseguir resolver nada com as pedras e os astros? E se estes tipos continuarem alucinados com a construção do TGV? Será que só nos resta um mergulho na ponte 25 de Abril com os pés e mãos atados? Haverá mais algum recurso disponível depois do Professor Mamadu? Antigamente ainda havia a possibilidade de um golpe de estado recorrendo às forças armadas como contra-poder, quando o país estivesse à beira do abismo. O país não ficava melhor, mas ao menos a malta andava à bolachada e de certa forma aliviava esta sensação de impotência. Agora parece que as forças armadas têm meios para, quanto muito, fazer frente a desacatos provocados pela claque do Rio Ave na visita ao Olhanense. Estamos assim entregues à nossa sorte. Espera aí!... Parece que uma nova esperança surgiu! Algo capaz de despromover o Professor Mamadu para penúltimo recurso. A notícia “Portugal obrigado a importar esperma do estrangeiro” abre-nos uma nova janela de expectativa. Cria-nos a esperança de que daqui a 30 anos, o filho de um casal português estéril, produto do esperma de um governante Dinamarquês, tome conta dos destinos do nosso país. O problema será, se por um acaso existir uma troca de amostras, e o esperma tiver sido, na realidade, proveniente de um qualquer palácio governamental da Serra Leoa. Desse esperma não precisamos. Essa estirpe de cromossomas já temos de sobra, espalhada por diversos partidos políticos da nossa praça…