quarta-feira, 23 de junho de 2010

Brincadeirinhas

A Justiça em Portugal continua a ser um mistério para mim. Já várias vezes escrevi, tentando encontrar uma definição para esta “Coisa” mas nunca cheguei a uma conclusão clara. Fiz várias abordagens, desde a Oftalmológica (estes tipos devem ser ceguinhos), passando pela Psiquiátrica (estes tipos deviam ser internados) ou pela Emocional (estes tipos deviam era levar um enxerto para ver se gostavam). Hoje penso ter conseguido finalmente descobrir o que pára na cabeça de alguns iluminados Juízes quando decidem de forma tão surpreendente sobre casos tão surpreendentes. E para tal apresento mais um caso hilariantemente triste, algo que não é difícil encontrar neste farto baú da “justiça” portuguesa (as aspas estão lá mas é mesmo assim). Aqui vai o relato resumido do caso: Um tipo assassinou uma vizinha ex-Freira e mandou-a para um poço. Roubou-lhe os cartões de crédito, tentou levantar dinheiro com eles e foi apanhado. Confessou o crime perante um juiz de instrução e o seu advogado, telefonou a uma amiga confessando o crime e levou a polícia ao poço para onde tinha atirado a senhora. Culpado. Não…?... Parece que no julgamento, o tipo ficou em silêncio e perante esse facto, o juiz decidiu não o poder culpar pelo crime de assassinato, esquecendo todos os procedimentos anteriores. Não querendo voltar às abordagens Psiquiátrica e Emocional, decidi procurar respostas noutros campos. De início pensei que se tratava de uma discriminação positiva; uma palavra de esperança para todos os mudos deste país. És mudo? Então estás safo da prisão! Podes asfixiar à vontade, gamar à vontade, atirar pessoas a poços à vontade que ninguém te ouve confessar. Mas esta teoria tem a falha da abrangência que se materializa em outra pergunta de contornos similares: Não és mudo? Então faz-te de mudo e estás safo da prisão! Parece que o assassino da vizinha ficou mudo depois de ver o juiz. Penso que esta teoria dos distúrbios da voz precisa de ser melhorada. A minha nova explicação para este absurdo, pende mais para o lado da Justiça “Piadola”. O juiz, um tipo cheio de sentido de humor, está sempre a ver se prega uma rasteira aos seus amigos polícias. No fundo é grande brincalhão. Na escola primária também tínhamos essas brincadeiras giras. Apostávamos ao interessante jogo da “meia hora” e, de meia em meia hora lá andávamos à procura do nosso companheiro de aposta para lhe mandar uma murraça acompanhada pelo grito “Meia hora – Foste apanhado”. Era muito divertido, mas também um pouco doloroso. Estes juízes brincalhões prolongaram o síndrome da “meia hora” até à idade adulta. Então, estão sempre escondidos nas esquinas do direito penal, para a qualquer momento mandar uma murraça no investigador e dizer “Foste apanhado!”. O tipo confessou o crime, levou lá a polícia, tinha os cartões de crédito da vítima, …mas espera aí! No local não haviam vestígios do crime? …Eh,Eh,Eh,…foram apanhados! Quem os bandidos? Não, os palermas dos polícias que não chegaram lá no momento em que o tipo tinha o saco de plástico na cabeça da senhora. Mas não seria porque o assassino limpou tudo cuidadosamente? Não há desculpas, para a próxima têm de prever o crime com mais antecedência! Têm de chegar a casa da vítima umas horas antes, deixar o crime acontecer para depois se poder acusar com mais segurança. Aí sim, pode-se condenar o bandido! A não ser que algum de vocês tropece no cadáver durante a perseguição…Nesse caso sempre se poderia alegar que a vítima foi molestada durante a acção policial(?). Hoje em dia o polícia tem dois trabalhos: Descobrir o assassino e tentar livrar-se da rasteira do juiz. Não necessariamente por esta ordem. A polícia, já colocou a hipótese de contratar discípulos do professor Zandinga para todas as esquadras, como forma de garantir a premonição dos crimes que estão prestes a acontecer. Assim, ao salvaguardar o flagrante delito, não há Juiz brincalhão que resista, a não ser, que a polícia use de força excessiva para prender o bandido. Aí, sempre se poderá alegar que… Foi mais uma vez Apanhado. Quem, o assassino? Não, o Polícia.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A trombetada do elefante


Venho aqui lançar a minha palavra de apoio ao objecto mais desconsiderado das últimas semanas: A Vuvuzela. Como todos se apressaram em denegrir tão enigmático instrumento de sopro, eu gostaria de enaltecer algumas das virtudes que fui descobrindo na sua doce sonoridade . E começo logo por uma experiência à qual eu próprio me sujeitei, durante o passado fim-de-semana durante um jogo de Andebol. Sentei-me estrategicamente à frente de um tipo com a tal corneta, para me inteirar das consequências nefastas do objecto bem junto dos meus ouvidos. A experiência foi,…como posso verbalizar,…?...arrebatadora. O som daquele trombone selvagem entrou qual ciclone no meu canal auditivo abanando o tímpano violentamente. Mas esta enriquecedora sensação, só a teve o tímpano do ouvido direito, isto porque junto do ouvido esquerdo estava outra espécie de vuvuzela que libertava um ruído extremamente perturbador e que soava assim: Seu filho da P****TA! Sua ovelha ranhoooosa! Eu vou aí e F***** - te todo! Arranco-te o bigode à dentaaaada! Ladrãããão! E aí eu tive de fazer uma difícil comparação. Preferiria o ruído ciclónico da vuvuzela a contribuir para a minha surdez precoce ou o manancial de baboseiras berradas a esbofetear-me o tímpano? Claramente a primeira opção. Se dessem uma vuvuzela ao senhor do insulto gratuito, ele estaria entretido a soprar na corneta e já não saía asneira. Saía apenas um barulho ensurdecedor. Esta é a primeira grande virtude da vuvuzela; uma espécie de terapia por sobreposição. Um tipo que tem uma dor no joelho, se levar tabefe, fica-lhe só a doer a cara. O Barulho da vuvuzela consegue ofuscar todos os outros ruídos igualmente incomodativos. Viajemos para os estádios de África e oiçamos com atenção. Conseguem ouvir os cânticos pornográficos das claques? Conseguem ouvir os jogadores a chamarem nomes ao árbitro? Conseguem ouvir o treinador a discutir com o fiscal de linha? Conseguem ouvir o homem das pipocas? Não, porque só ouvem vuvuzelas. E só esta última opção é que me deixa triste. O homem das pipocas é o único que deveriam deixar vender o produto à vontade. Poderiam parar de tocar quando esse homem passasse, mas não. Aquele ruído é contínuo; não dá espaço para um “Olha a pipoca queeeentinha!”. E esse é o verdadeiro enigma; Como é que os tipos conseguem aquele som ininterrupto durante todo o jogo? Basta que cada grupo de 100 pessoas sopre naquilo durante 2 minutos que o som se prolonga durante todo o jogo. Não é mal pensado.
O aparecimento da Vuvuzela também tem um cunho cultural de relevo. Os africanos quiseram prestar um tributo ao elefante, aquele animal que foram exterminando ao longo dos anos para lhe sacar o marfim. Enternecedor. E a vuvuzela não é mais do que a vingança servida fria e ruidosa do pobre elefante “Ai tiraram-me o marfim para fazer estatuetas de bibelot, atão toma lá com a cornetada que utilizo para avisar as fêmeas que vai haver regabofe!” E como o som do acasalamento pode chegar longe… Só me custa a entender porque é que a chinfrineira de uma manada de elefantes é similar a um enxame de abelhas(?).
A outra grande virtude da Vuvuzela, é que abre novas perspectivas de negócio. Um comerciante local já vendeu 500 tampões para os ouvidos, para protecção daqueles que não têm afinidade auditiva com o som do paquiderme. Para os outros que não usam protector, os médicos otorrinos estarão à espera para lhes receitarem aparelhos auditivos que os façam distinguir o som de uma elefanta com o cio. Não é por acaso que “vu…vu…zela” tem uma sonoridade que nos lembra as pessoas com maiores desgaste auditivo, que são os avós. Quando a Zélia entra em casa do avô e lhe grita ao ouvido “Ó vô-vô é a Zélia!”…Ããã? Vô-vô- Quê???...
Faço desde já um apelo à proliferação da utilização da vuvuzela a outros palcos mediáticos, onde daria jeito uma contínua cornetada como forma de ofuscar baboseiras. Começava logo pelos debates entre comentadores desportivos, naquela parte da análise do sistema 4x4x …Bruuuuuuuu! No parlamento, quando se iniciasse a intervenção de um líder sobre as grandes opções estraté…Bruuuuuuuuu! No discurso do presidente das duas reformas vitalícias e do ordenado chorudo sobre a repartição dos sacrifi…..Bruuuuuuuuuu! Como pode ser aliviadora, a ruidosa trombetada do Elefante…