Nesta quadra
natalícia, onde os valores de fraternidade e solidariedade têm ainda mais
relevância, a Associação Empresarial de Penafiel teve o bonito gesto de
contratar pessoas desempregadas para se vestirem de Pai Natal e distribuírem
balões pelos transeuntes. Seria a forma
da dita associação poder proporcionar a quem não consegue trabalho, a
possibilidade de auferirem um rendimento que lhes possibilite comprar o peru e
os coscorões para a celebração natalícia.
Os desempregados apresentaram-se no centro de emprego e o angariador com
um sorriso orgulhoso nos lábios diz quanto vão auferir por cada hora de
trabalho: 43…cêntimos…??? Espera aí,…não quereria dizer 4,3 euros?...ou 43
euros?...Não!...é mesmo 43 cêntimos por hora, o que daria no final das 6 horas
e meia que trabalham por dia, 2 euros e 79 cêntimos, uma quantia que dá para
comprar assim à vontade 2 pacotes de bolacha Maria. No final do mês conseguem
levar para casa 83 euros, com os quais
conseguem pagar a conta da luz e ainda sobram uns cêntimos. Estava aqui a
pensar na razão dos 43 cêntimos pagos ao senhor que enriquece o nosso
imaginário infantil e achei muito bem. Por um lado o que recebem numa hora, não
chega ao preço de uma bica, evitando que a imaculada barba branca corra o risco
de ficar acastanhada com a borra do café . Assim, os miúdos não se assustam nem
ficam a pensar que o Pai Natal acabou de lavar as pilosidades na água da
sanita. Outra das razões para tão frugal
remuneração será de índole anatómica. Desde há algum tempo que os miúdos põem
em causa a possibilidade da passagem das proeminentes adiposidades do Pai Natal
pelo estreito orifício da chaminé. Parece que as bolachas Maria não
engordam e que, com 5 meses a receber um
salário desta magnitude, o senhor não só consegue passar pelo buraco da chaminé,
como pelo orifício da fechadura por onde os miúdos espreitam para o ver. Depois de levarem com a bola do gorro do Pai
Natal na vista, gritam com a mão a tapar o olho curioso: “Ó Mãe, afinal o Pai
Natal sempre existe!...agora vou ali lavar o olho com soro fisiológico, que a
bola do gorro feita com poliéster chinês, causa uma irritação do “caneco”.” .
Dizia-se que era exigido ao Pai Natal que esboçasse um sorriso, mesmo depois de
andar a comer bolachas Maria durante o mês inteiro. É isso que se espera do Pai
Natal; um personagem que faça sentido e cujas acções assentem no mais elementar
realismo. Vem da Lapónia, montado num
trenó puxado por renas voadoras, traz os presentes para todos os meninos do
mundo dentro de um único saco, consegue descer pela chaminé antes de fazer
dieta com bolachas Maria e adivinha sempre os desejos das crianças. É óbvio, que depois de receber 43 cêntimos à
hora só pode esboçar um sorriso. Queriam que dissesse mal do seu patrão? Isso,
é pura ficção.
Nesta quadra,
o Pai Natal dos 43 Cêntimos ainda faz mais nexo. O seu sorriso, será o exemplo
de que os portugueses precisam para superarem as adversidades. Por mais que
sintam que vos estão prestes a lavar a barba na água da sanita, existe sempre
um sorriso para esboçar, um balão para distribuir, e uma bolachita Maria para
trincar.