quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Pai Natal dos 43 Cêntimos


Nesta quadra natalícia, onde os valores de fraternidade e solidariedade têm ainda mais relevância, a Associação Empresarial de Penafiel teve o bonito gesto de contratar pessoas desempregadas para se vestirem de Pai Natal e distribuírem balões pelos transeuntes.  Seria a forma da dita associação poder proporcionar a quem não consegue trabalho, a possibilidade de auferirem um rendimento que lhes possibilite comprar o peru e os coscorões para a celebração natalícia.  Os desempregados apresentaram-se no centro de emprego e o angariador com um sorriso orgulhoso nos lábios diz quanto vão auferir por cada hora de trabalho: 43…cêntimos…??? Espera aí,…não quereria dizer 4,3 euros?...ou 43 euros?...Não!...é mesmo 43 cêntimos por hora, o que daria no final das 6 horas e meia que trabalham por dia, 2 euros e 79 cêntimos, uma quantia que dá para comprar assim à vontade 2 pacotes de bolacha Maria. No final do mês conseguem levar para casa  83 euros, com os quais conseguem pagar a conta da luz e ainda sobram uns cêntimos. Estava aqui a pensar na razão dos 43 cêntimos pagos ao senhor que enriquece o nosso imaginário infantil e achei muito bem. Por um lado o que recebem numa hora, não chega ao preço de uma bica, evitando que a imaculada barba branca corra o risco de ficar acastanhada com a borra do café . Assim, os miúdos não se assustam nem ficam a pensar que o Pai Natal acabou de lavar as pilosidades na água da sanita.  Outra das razões para tão frugal remuneração será de índole anatómica. Desde há algum tempo que os miúdos põem em causa a possibilidade da passagem das proeminentes adiposidades do Pai Natal pelo estreito orifício da chaminé. Parece que as bolachas Maria não engordam  e que, com 5 meses a receber um salário desta magnitude, o senhor não só consegue passar pelo buraco da chaminé, como pelo orifício da fechadura por onde os miúdos espreitam para o ver.  Depois de levarem com a bola do gorro do Pai Natal na vista, gritam com a mão a tapar o olho curioso: “Ó Mãe, afinal o Pai Natal sempre existe!...agora vou ali lavar o olho com soro fisiológico, que a bola do gorro feita com poliéster chinês, causa uma irritação do “caneco”.” . Dizia-se que era exigido ao Pai Natal que esboçasse um sorriso, mesmo depois de andar a comer bolachas Maria durante o mês inteiro. É isso que se espera do Pai Natal; um personagem que faça sentido e cujas acções assentem no mais elementar  realismo. Vem da Lapónia, montado num trenó puxado por renas voadoras, traz os presentes para todos os meninos do mundo dentro de um único saco, consegue descer pela chaminé antes de fazer dieta com bolachas Maria e adivinha sempre os desejos das crianças.  É óbvio, que depois de receber 43 cêntimos à hora só pode esboçar um sorriso. Queriam que dissesse mal do seu patrão? Isso, é pura  ficção.
Nesta quadra, o Pai Natal dos 43 Cêntimos ainda faz mais nexo. O seu sorriso, será o exemplo de que os portugueses precisam para superarem as adversidades. Por mais que sintam que vos estão prestes a lavar a barba na água da sanita, existe sempre um sorriso para esboçar, um balão para distribuir, e uma bolachita Maria para trincar.  

domingo, 9 de dezembro de 2012

O "Petrolista" no reino do IMI


      O meu filho está dentro do restrito universo de miúdos que sonham com o dia em que serão jogadores de futebol profissional. Como todos os aspirantes a futebolistas, não é nada modesto e coloca a fasquia do Messi como o obstáculo a transpor com um simples salto de pé coxinho. Como pai tristemente pragmático, coube-me a tarefa de puxar pelo cordel amarrado aos sonhos do miúdo insuflados com hélio e dizer-lhe: “Olha filho (todas as chamadas de atenção imbuídas de pedagogia começam assim…), sabes que as probabilidades de chegares a um clube de futebol como o Barcelona, de fazeres anúncios para a Adidas e de meteres as mãos na miss Venezuela, estão ao nível de um jackpot no euromilhões, com a agravante de dar ainda mais trabalho do que colocar 6 cruzes no boletim.”. O miúdo olhou-me de soslaio e, não querendo voltar de forma tão abrupta à terra, lançou: “Então…?...e…o Maserati???...”. Não esperando pelas minhas explicações sobre a confluência de factores que teriam de coexistir para o seu sucesso futebolístico, voou de forma prática para a etapa seguinte,: “Então que outra profissão me pode dar a possibilidade de comprar um Maserati amarelo daqueles que as portas se abrem p’ra cima, como as naves espaciais?” . Ri-me e disse-lhe em tom trocista: “Só se fores um daqueles sauditas que vivem do petróleo!” . “É isso! Quero ser “Petrolista”!...como é que isso se faz?” respondeu o miúdo. “Petrolista”?...faz nexo; uma mistura de explorador de petróleo e dentista. Ambos esburacam coisas, seja à procura de líquido preto ou de pretas cáries. Tive que voltar a dar uma puxadela no cordel agarrado à tíbia do cachopo voador e dizer-lhe: “Cá em Portugal não há petróleo. Os locais onde ele existe ficam muito longe e precisas de ter Maseratis na garagem conseguires financiar a sua exploração.” O meu filho ficou baralhado e retorquiu: “Mas se eu já tivesse um Maserati não precisava de ser petrolista!” Tinha razão. O que ele queria saber era sobre o processo que conduz o tal carro amarelo de luxo, do stand até à garagem. Não consegui responder a essa questão sobre o enriquecimento supersónico e retirei-me com a sensação de ser um desmancha-prazeres do “petrolista” em potência. Pelo sim, pelo não, o miúdo foi dar pontapés e ensaiar mais algumas fintas no ervado exterior.
         Dias mais tarde descobri que afinal existem poços de petróleo em Torres Novas e, melhor de tudo, no terreno da minha mãe. Fui avisar o miúdo que afinal poderia ser “petrolista” em casa da avó, isto porque ela tinha recebido a nova avaliação patrimonial da sua usada casa e deparou-se com um aumento (num espaço de 6 anos) de 700% …?.... A única razão plausível para esse milagre da multiplicação seria terem descoberto lençóis de petróleo no seu subsolo. Mas a descoberta não ficaria por aqui. O lençol prolongava-se para casa do outro avô, bem perto dali, cuja reavaliação da casa tinha um incremento de 600%. “Já tens os terrenos na família a transbordar de combustível, agora é só arranjares os meios para a prospecção!”. As formas de investimento para a perfuração, teriam de vir de fora, isto porque os avós, com o novo e agradável IMI que terão de pagar, restar-lhes-á quanto muito fundo de investimento para a extracção de couves e cenouras do terreno milionário. Poderia, talvez chamar 20 dos seus enérgicos amigos de 10 anos lá a casa para umas brincadeiras. Não haverá equipa mais especializada em perfurações, bastando ver como os canteiros das flores ficam, após actividade lúdica infantil durante duas horas;…de fazer inveja aos terrenos escalavrados de prospecção de qualquer poço de petróleo iraniano.
         Preparava-me para encerrar esta crónica e deparei-me com a notícia do valor de 37.000 euros de multa, reservado a quem pise a relva dos jardins do município de Cascais. Poderia enviar o meu “petrolista” para Cascais, mas parece que afinal no subsolo dos seus jardins, não existe petróleo. È demasiado poluente  para uma zona tão nobre e queque. Pressuponho que este solo sagrado, albergará uma produção massiva de trufas, esse fino e luxuoso fungo utilizado na cozinha gourmet, cujo quilo pode ascender aos 7.000 euros. Não vou revelar esta notícia ao meu filho, senão ainda corro o risco dele me responder: “Ó pai, já não quero ser jogador de futebol, nem tão pouco “petrolista”!... Achas que me podes oferecer no Natal, um cão farejador de trufas negras???