A nonhinhisse como fenómeno social surgiu para nos pôr à
prova. Entrou nas nossas vidas sem se dar por isso, mas percebemos o
efeito corrosivo que tem no nosso bem estar. Um indivíduo coloca-se
na fila de uma repartição comercial. Tem a senha 47 na mão e vê
no ecrã que vai na 43. “é rápido” pensa. Ao fim de uma hora é
recebido pelo tipo que lhe pergunta: “Tem aí a senha? Mostre e
Espete aqui no prego!”. Quando sentimos o alívio pela espera
terminar, somos recebidos por um contundente “Espete aqui no
prego…?...”. E é aqui que surge o fiel seguidor do movimento da
nhonhinhisse: o nhonhinhas. Estaríamos prestes a
resolver o nosso assunto de forma célere, apenas queríamos uma
informação, mas o nhonhinhas trata logo de nos dizer que
não será nada fácil. Só com o impresso 78, com assinatura
reconhecida, com a aprovação do chefe que por acaso é um bocadinho
exigente nessas coisas, ou seja, as possibilidades de esclarecimento
da nossa dúvida, estão ao nível da resolução do conflito na
Venezuela. O nhonhinhas não facilita; o nhonhinhas
cria obstáculos. Percebemos que sem esse entrave do outro lado do
balcão, teríamos sido recebidos meia hora antes. O nhonhinhas
é portador de uma competência que visa aleijar...devagarinho. Há
quem confunda o nhonhinhas com o chato. Mas o chato só
chateia, o nhonhinhas escarafuncha de forma ardilosa até
magoar. É disso que se alimenta o seu ego. Mas quem é de facto um
potencial nhonhinhas? Percebe-se que teve uma difícil
adolescência, onde imperou uma clara falta de reconhecimento social.
O último a ser escolhido para as equipas de futebol, o primeiro a
abrir a porta à professora de matemática. O nhonhinhas teve
o mérito de não se deixar abater perante a incompreensão dos
outros quando gritavam“Ó graxista!”, depois dele levar todos os
dias a pasta da professora no final da aula e de lhe oferecer caixas
de chocolates no Natal. Fez do estudo a sua melhor ferramenta. Ai é
assim? Então já vão ver! O nhonhinhas agarrou-se aos
livros, estudou para singrar e lhe permitir ter algum poder para
escaranfunchar e magoar um bocadinho aqueles que não
reconheceram as suas virtudes. No entanto o nhonhinhas não
singrou bem o que queria; ficou ali a meio caminho. Um pouco como a
bactéria da legionela que se desenvolve na humidade da canalização
entre a caldeira e o chuveiro. O nhonhinhas situa-se entre a
chefia a sério e os utilizadores dos seus serviços. A caldeira
lança a água quentinha e a bactéria trata de se introduzir nela
para cair em cima do couro cabeludo do utente e fazer-lhe a vida
negra. O nhonhinhas convive bem com essa tarefa: lambe o
traseiro da chefia; e usa o traseiro do utente para aplicar as suas
bactérias. Sente-se ligeiramente subjugado e bastante subjugador.
O nhonhinhas aspira a liderar a sério, mas falta-lhe carisma,
humanismo, competência social. Mas lida bem com a sua quota parte do
poder que se exterioriza na capacidade de conseguir ver a sua vítima
a esbracejar e a ficar com vontade de lhe dar dois estalos. Mas o
nhonhinhas sabe que não tem cara para levar 2 estalos;
sente-se protegido. Usufrui de forma prazerosa do insucesso dos
outros. No seu percurso de formação de personalidade, o nhonhinhas
aglutina uma série de características bem vincadas, onde a cobiça
assume um papel de relevo. Cresceu no meio do sucesso dos outros,
facto que, na sua cabeça, aumentava a sua sensação de insucesso.
Ainda não digeriu o facto da espampanante Jéssica, a sua paixão
platónica com a qual nunca trocou uma palavra, ter sido apanhada
enrolada com o Sandro atrás do campo da bola. Ai é assim ó
Jessica?...
A
proliferação de nhonhinhas está a ser feita em todos os
sectores da sociedade, sejam funcionários de repartições,
políticos, médicos, professores, juízes, polícias, enfermeiros,
taxistas, empregados de restaurantes e até canalizadores (ai queres
tubos em aço inoxidável?...então toma lá estes em pvc q’é p’ra
aprenderes não te armares em Sandro!). Já existem casos de
nhonhinhas que conseguiram subir pelas paredes da canalização
até aos cargos do poder mais a sério e conseguiram espalhar de
forma mais contundente a Nhonhisse. Podem ser nhonhões
com todos os outros nhonhinhas que se encontram a meio caminho
e destilar nhonhisse sem controlo, à grande.
Urge
tomar medidas profilácticas no combate ao nhonhismo desde
tenra idade. Como professor de Educação Física, sinto que tenho
obrigações acrescidas nesse campo. Na última aula de Futebol, fui
eu que fiz as equipas para evitar o embaraço de existir uma última
escolha e com ela o nascimento de potenciais nhonhinhas.
Quando distribuía coletes pelas equipas, ouvi um aluno dizer para o
outro: Ó pá, tu vais para a baliza e é já!… Quando me virei
para tentar resolver a questão, pareceu-me ouvir o guarda-redes
forçado vociferar entre dentes : Ai é assim?…Então já vais
ver...
Um comentário:
Fantástica análise sobre a Nhonhice, que te levará, se deixares, a um doutoramento honoris cause, no mínimo. Eu sempre pensei que a nhonhice um dia iria acabar, mas aceitei sem objecções a sua existência e desenvolvimento.
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