Neste momento de convulsão social, com inúmeras
classes profissionais em greve, existe uma em particular que não me consegue
deixar indiferente. A greve dos guardas prisionais acontece por uma clara falta
de diálogo e de desconhecimento por parte dos sindicatos do plano estratégico
mais profundo que se trata da criação de um novo super herói tuga chamado
“Guarda Prisional numa cadeia portuguesa” ou GPCP . De facto, longe dos
holofotes da comunicação social, foi criado um protocolo com a Marvel Comics
para a substituição de personagens já algo desgastadas como o Homem Aranha,
Capitão América, Hulk, Thor, Tocha Humana e afins. Fartos de fazerem sequelas
com o tipo a lançar teias de aranha pelos pulsos e a vestir fatos de licra
esquisitos, a Marvel descobriu em Portugal um terreno fértil para o surgimento
de um novo Herói: o GPCP ou na versão Hollywoodesca “The Jail Man”.
Conseguimos, com recurso ao método Correio da Manhã, interceptar algumas
conversas da discussão na fase embrionária do projeto entre responsáveis da
Marvel e alguém do ministério da Justiça, para percebermos como tudo começou.
Apesar de cientes da importância que um herói lusitano poderia ter na imagem do
país lá fora, percebemos que os responsáveis portugueses não abdicariam de
princípios chave nas negociações: O fato de licra é que não! Quanto ao resto,
tudo poderia ser arrojado, mesmo a puxar para o inverosímil. O enredo começaria
assim: “Um indivíduo que parece normal, sai de casa com a lancheira debaixo do
braço e prepara—se para entrar dentro de uma prisão de alta segurança com 20
bandidos…20?...20 é pouco,….metemos 50 (diz o tipo da Marvel),…, eu avançava
logo para os 100 ,…mas para estarmos aqui a falar de Heróis, mandamos-lhe com
200 e não ficam dúvidas sobre o seu desempenho (contrapõe o responsável
político).” E assim surge a notícia “Na prisão de Santa Cruz do
Bispo um guarda prisional consegue dar conta de 200 reclusos no refeitório”
. Percebendo que estão no bom caminho na construção do Super Guarda,
foram ainda mais longe e decidiram que tinham de dar ferramentas extra aos
vilões para que o Jail Man brilhasse ao mais alto nível. Se o Homem
Aranha se debateu contra o Duende Verde que voava com recurso a jactos
acopolados nos pés, o Capitão América aniquilou o Caveira Vermelha munido de
superpoderes aterradores, também o nosso Super Guarda teria de ter vilões à
altura. “Mas o facto de serem 200 bandidos não chega? Não. Para isso temos o
John Rambo, que deu cabo de 90 mauzões armados até aos dentes em menos de um
fósforo. Temos de facultar aos bandidos armas para tornarem a acção do Guarda
solitário ainda mais estóica. ” Dar salas de musculação aos bandidos
para estes poderem ficar mais fortes e robustos na hora de andarem à lambada,
dar telemóveis com internet aos bandidos para estes poderem comunicar com os
bandidos lá de fora na hora de precisarem de mais “armamento” pesado e dar um
cacetete muito duro ao Guarda para ele se fazer respeitar na hora em que fica
sozinho em frente de 200 musculados e rudes bandidos. Tudo estava a correr às
mil maravilhas nesta construção do super personagem, quando entraram os
picuinhas representantes sindicais a reivindicarem mais guardas nas cadeias.
“Shiuuu ó chato! O rácio de 200 para 1 compatível com um super herói está
feito! ….deixa-te disso!” A ministra da Justiça, tentando salvar o acordo com a
Comics (nome sugestivo), ainda veio dizer que este não seria o momento adequado
para a greve. Que os reclusos precisavam de receber as famílias num
espaço de tempo inferior a 5 dias (parece que alguns não passariam sem o bolo
rei da sogra feito com brindes escondidos). Tentou mendigar junto
dos responsáveis da Marvel que adiassem a estreia mundial da sequela “Os
Vingadores” garantindo que o Super Guarda iria entrar em breve numa acção
espectacular com recurso a bonés, canivetes suíços e panelas de cozinha, mas
eles mostraram pouca vontade de esperar. Numa acção desesperada, os reclusos
fizeram um motim com palavras de ordem “queremos um super-guarda… só, para
nós!!!” E começaram a pegar fogo aos colchões que tinham à mão. Ainda chamaram
o Jail Man para ver se o podiam imolar ao que ele respondeu: “Caros reclusos
deixem-se disso que o Tocha Humana é personagem de outra história! Vejam lá se
não querem que eu vista o meu fato de super herói e aplique de forma algo
agressiva um duro cacetete na vossa frágil moleirinha …; assim, à falta de
melhor, sempre posso fazer parte da sequela “os vingadores”...”
sábado, 8 de dezembro de 2018
terça-feira, 27 de novembro de 2018
Amasso Friday
Vi as imagens daquela massa humana compactada à
porta da loja de aspiradores na tal Black Friday. Numa primeira análise temo
confessar que também embarquei na tese “ o que passa na cabeça destes
mentecaptos para, numa 6ª feira de manhã, se sujeitarem a uma espera de horas neste
degredo massivo?”. Depois de alguma
reflexão, decidi ver o lado White do cenário Black. Em primeiro lugar, realçar
a forma ordeira como a maralha estava no
epicentro do aperto: nem um grito, nem um espilro, nem uma bufa. Denota
civismo, espírito de grupo, ou simplesmente medo de apanhar uma lambreta do
barbudo do lado, no caso de um flatulente descuido. Depois, percebe-se que muita daquela rapaziada já está habituada
ao encosto. Uns por se sentirem bem no aconchego afectivo com desconhecidos,
outros com experiência no treino do amasso; muitas horas nos estádios, concertos
de rock, festas na Urban e outros simplesmente porque compraram uma colónia Old
Spice e querem compartilhar o seu odor. A
génese da indignação e reprovação coletiva teve a ver com a motivação de base
que levou o grupo para aquela dolorosa espera: a possibilidade da compra de um
superficial objecto tecnológico a preço de saldo. E depois? E as miúdas que
arrastam as mães para guardar lugar 48 horas antes para o concerto do Justin
Bieber? o adepto que fica 8 horas à
frente do hotel do Ronaldo, só para ver os vidros fumados do bentley? A sujeição
a três horas de espera por um autógrafo e um beijo na testa do Tony Carreira?
Ao menos ali um tipo tinha desconto…de 20%(?) nos exaustores.
Gostaria de enaltecer a forma atlética como os
primeiros da fila arrancaram a velocidades de fazer inveja a qualquer
jamaicano. “Epá eu só saí naquela mecha porque um caramelo me beliscou o
traseiro na hora em a porta abriu???” . “Não te queixes ó Antunes, que eu aqui
na 4ª fila da molhada, não foi um beliscão que senti no traseiro! Fui de pés no
ar até à secção dos DVDs!!!”. Não
podemos de facto ignorar esta riqueza de desempenho físico do velocista Antunes
que conseguiu mandar as mãos ao Iphone em primeiro lugar depois de derrubar a
prateleira dos tinteiros de impressora e do seu amigo Barata, que teve de
passar pela mesma sensação de um jogador
râguebi com a cabeça dentro da mêlée para conseguir mandar as unhas ao forno da
bosh de 2500 wats. Os tipos da 25ª fila
levaram qualquer coisa para casa além das nódoas negras? É claro que havia
material tecnológico para todos os afoitos. Com sorte chegaram contentes ao lar,
com a camisola rasgada, sem uma sapatilha, mas com um estojo muito engraçado para guardar
a máquina fotográfica.
Deixo também aqui, o elogio sentido para os pobres
e incrédulos seguranças que conseguiram sair incólumes deste tsunami de
lutadores em fúria. Encostados ao pilar no arranque da “manada” , aí se
mantiveram até não haver mais panelas de pressão nas prateleiras. Se houve roubos, naquela confusão? Não se aperceberam
de nada, pelo menos quando olharam de soslaio para o caos, na sua inerte posição
de guarda ao pilar exterior.
Ao constatar o desempenho daquela malta solícita, senti a esperança de
que temos ali massa humana para enfrentar os desafios que o país enfrenta. Só
precisamos de canalizar toda esta energia para causas e trabalhos coletivos de
relevo: a limpeza das matas, …tem 20% de desconto?..., a angariação de
alimentos para os mais desprotegidos,….o desconto é bom?...., a luta
efetiva pelo mau funcionamento da
justiça…e os 20%? ….ainda fazem? A despoluição do rio Tejo…para testar o meu
samsung à prova de água que comprei na Worten com 20% de desconto?...boa!!!
Não me sai da cabeça o pobre do Iphone, tão sossegadinho no escaparate, ver entrar por
aquela porta centenas de loucos aos
empurrões na sua direção. Até aí, na altivez do seu preço astronómico, apenas
tinha contactado com parcas e refinadas mãos de alguns mais favorecidos. Nesse momento é arrancado à força pela rude e
desesperada manápula do Antunes que, de olhos esbulhados, grita: “F****se!
Então é por este desconto de m**da que eu estive 5 horas com o nariz encostado
no vidro, aconchegado na retaguarda pelas
adiposidades do tipo de 90 kg que se despediu de mim com um vigoroso beliscão no
traseiro???”. A contragosto e a
vociferar palavrõe, lá pagou o Iphone
com um desconto significativo de 20 euros.
Encontrou no exterior o seu amigo
Barata com um lanho na cabeça, agarrado ao forno bosh de 2500 wats. “Epá ó Antunes, isto hoje foi difícil! Esteve
ao nível daquele jogo da liga dos campeões, o do 0-0, em que andou tudo à
estalada!”
Depois daquela experiência, os dois amigos rumaram
até casa com o espólio tecnológico
caçado e eis que surge uma enorme fila junto da loja de ração para
cães. O Antunes olha, pára e assume o seu lugar na fila. Preparava-se para mais
uma luta naquela Black pet shop Friday. “Mas ó Antunes tu tens cães em casa?”
pergunta incrédulo o seu amigo Barata. O Antunes abana a cabeça e responde “Mas
é preciso ter cão, para perceber que estes 20% de desconto no saco de 15kg são um fabuloso negócio!?”.
terça-feira, 2 de outubro de 2018
Venha daí um refrigerante fresquinho!!!
O pobre do Sumol é um dos
actuais alvos da aterradora máquina fiscal. Essa refrescante bebida de laranja,
com bolhinhas, que nos alivia o calor no pingo do verão, tomada na sombra
daquela fabulosa esplanada junto ao rio, afinal é um vilão cheio de sacarose
para nos envenenar os tecidos. Parece que o gangue
dos refrigerantes se juntou para
assaltar a nossa preciosa saúde.
Vai daí, o justiceiro do bem estar, pegou nas suas armas fiscais e
tratou de disparar taxas sobre as frescas coca-colas, as apetecíveis 7-ups, os
espalhafatosos Ice teas, os lusitanos frisumos.
O açúcar faz mal aos dentes e à diabetes e parece que essas bebidas têm
carradas dele. Tomem lá
impostos para cima que é p’ra aprenderem a ser saudáveis. Assim, as pessoas já
não consumirão essas maléficas bebidas açucaradas e virar-se-ão para os batidos de beterraba, rúcula e cenoura
, se possível biológicos.
Fico contente por, os órgãos
decisores tributários, pensarem de forma
tão afectiva e preocupada no nosso bem estar.
Esta decisão vem na sequência dos quase imperceptíveis aumentos de
impostos no global plano de profilaxia da saúde dos portugueses. A gasolina é a
mais cara da europa, porquê? Porque os impostos colocados no combustível são
também os maiores da europa, a bem da saúde geral. O Portuga andará menos de
carro, logo fará mais atividade física, logo ficará mais saudável. Mas eu trabalho a 80 km de casa!?...logo ficará
ainda com mais saúde, podendo dedicar-se ao ciclismo de longa distância. Se não
tem bicicleta, burro ou uma motoreta movida a painéis solares, pode ir de
carro, sabendo que não lhe sobrará muito dinheiro para gastar em bebidas
açucaradas e continuará cheio de saúde. Mas espera aí, a beterraba e aquela
erva, a rúcula, também estão pela hora
da morte…?...
No meio da discussão dos impostos sobre os
refrigerantes e da saúde pública, apareceu a notícia (um pouco menos relevante)
da substituição da procuradora geral da república Joana Marques Vidal. Parece
que ela estaria a “Tratar da Saúde” de algumas deprimentes e corruptas
personagens deste país, até então
intocáveis, e foi aí que o equívoco surgiu: “Tratar da saúde dos bandidos? Temos
é de tratar da saúde dos portugueses, pá! Ainda ontem estive com o meu Rafael 5
horas à espera na urgência do hospital STª Maria! Uma vergonha! Deixem lá esses malandros e
pensem nos mais desfavorecidos, caneco!”.
Quando alguém quis explicar que “Tratar da saúde” pode apresentar-se
como uma forma de expressão idiomática podendo significar “Tratar de meter na
choldra a bandidagem”, do outro lado, confundiu-se
com o “Tratar da saúde do doente com amigdalite, no consultório médico”.
Mudou-se a Procuradora e o tal do Juiz Carlos Alexandre, este último, uma espécie de força especial no tratamento
da saúde da apavorada bandidagem.
Parece assim, que a bandidagem agora, possa tratar da sua saúde à
vontade (sem expressão idiomática) e continuar a tratar da saúde dos
portugueses (de forma violentamente idiomática) se possível com a falência de
mais uns quantos bancos e o aluguer de casas em Paris, com dinheiros
provenientes da saúde de outros. É que
os marqueses do processo são muitos, e parecem ter uma saúde férrea. Sinto que a minha saúde está bem entregue, ou antes,
tratada, pelo outro juiz eleito por
sorteio informático à 3ª tentativa (problemas de saúde do computador?), que
parece ter o historial e as ferramentas necessárias para tratar da saúde
(idiomática) dos dossiers mais complexos e remetê-los para a reciclagem dos resíduos
“hospitalares Judiciais”.
Uma coisa é certa, enquanto assisto a esta
preocupação comovente com a nossa saúde colectiva, vou ali beber um sumol
fresquinho, que não há maneira de baixarem
as temperaturas, e assim, no caso de me tratarem de vez da saúde, não correrei
o risco de estar a digerir um saudável sumo
de beterraba com rúcula.
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
Geringonça Festiva
A
indignação invadiu as hostes mais puritanas deste país ao
saber-se o ministro das finanças Mário Centeno pediu uma borla de
bilhetes, para o dérbi do Benfica/Porto na época passada. Quando
questões éticas se levantam nesta associação “bola à borla”
estimulando acesas discussões repudiando esse pedido especial, sinto
que tenho obrigação de prestar solidariedade para o nosso pobre,
quase pobrezinho Mário.
Comecemos
pelo início. Quando pela primeira vez, o tal governo geringonça,
eleito sem ser eleito, apresentou o “novo” timoneiro financeiro,
tenho de confessar que pesquisei durante algum tempo promoções de
voos baratos da Ryanair de ida para as ilhas caimão. Não existiam
voos baratos; deixei-me estar. Avaliando o seu balbuciante discurso e
sua imagem tristonha, quase sofrível, pensei que a coisa não iria
longe e o naufrágio económico aconteceria bem antes de se poder
apanhar qualquer tipo de avião, barco ou jangada para as ilhas
caimão. Enorme equívoco. De repente, o país passou de um estado
semi-comatoso, para uma festa de crescimento económico acompanhada
de pandeiretas, tamborins e violões. Um fenómeno verdadeiramente
enigmático, como, por detrás daquela expressão de pobre
“Calimero” , o tipo se conseguiu revelar um mestre no samba da
alta finança. Estávamos todos de tanga e no dia seguinte começámos
a folhear catálogos da porshe e viagens à noruega. O tipo operou
um milagre ao nível da crença. Fez-nos acreditar que tudo é
possível; se até ele conseguiu chegar a ministro das finanças,
quem somos nós para nos deixarmos abater. E a ideia base é a
seguinte: “O meu amigo está impecável!”. Mas ó doutor as
análises davam uma taxa de colesterol excessiva… “O meu amigo
está impecável!”; e a hérnia inguinal que não me deixa levantar
do sofá… “o meu amigo está impecááável!”;...e… as
cataratas do meu olho esquerdo que me fazem confundir a Graciete com
o ministro Mário Centeno?… “o meu amigo está impecável e a ver
cada vez melhor!!!...”. O Senhor Alfredo saiu do consultório aos
saltos, pronto para dar uma nova vida aos seus 85 anos e fazer
maluqueiras com a sua Graciete. É o chamado efeito placebo; continua
na mesma, mas acreditando que está extremamente melhor. No caso do
nosso estado económico, estamos perante o efeito Centeno:
continuamos a ganhar o mesmo, a perceber a magnitude sofrível do
período entre dois vencimentos, no entanto estamos muito melhor,
diríamos mesmo... impecáveis. Ai os preços aumentaram agora?…
“com estes preços e esse ordenado o meu amigo está impecável!”
. O “Efeito Centeno placebo” conseguiu ser passado até às
empresas de rating que nos tiraram do lixo e nos deixaram ainda
mais...impecáveis. Vai daí voltámos a comprar tudo em barda.
Iphones baratos; jeeps a preço de amigo, casas em promoção,
afinal são só 48 prestações de meio ordenado mensal. A dívida
pública continua a aumentar?… “Ó meu amigo ...a dívida está
impecável!”.
O
reconhecimento da competência de Mário para a crença interna era
óbvia, mas ele queria mais. Queria ser reconhecido no eurogrupo, se
possível chegar a presidente. Mas ó Mário isso já é pedir
demais. Uma coisa é fazeres o portuga acreditar que está
impecável, outra é convenceres os tipos lá de cima que tu és
impecável. Surgiu a ideia de génio dos bilhetes para o Benfica. Vou
fazer ver àqueles tipos que consigo o impossível. Vou arranjar
convites em lugares de luxo, para um jogo onde nem na cave do
Madureira existem bilhetes e não vou pagar cheta. E ainda vou levar
o meu filho comigo. Basta convencer o meu amigo Luís Filipe que ele
é um tipo impecável. Eis o passaporte para a presidência do
eurogrupo. Quem não quer um indivíduo desta envergadura; adepto do
benfica, utilizador da cunha e praticante da borla. E a borla
representa o patamar mais alto de qualquer sistema financeiro. Mais
barato não há. Ainda por cima em lugares vipes com canapé de
gambas incluído. Este tipo consegue gerir uma casa sem dificuldades.
Mário, estamos convencidos; a presidência é tua! Agora só falta
responderes a uma pequena questão retórica e o cargo é teu. Sabes
alguma coisa da isenção (uma espécie de borla) da taxa de IMI do
edifício propriedade dos filhos do teu amigo Luis Filipe atribuída
uma semana depois desse fabuloso dérbi acompanhado do canapé de
gambas? Epá eu não tenho nada a ver com isso, mas parece que o
edifício é extremamente bonito e sobretudo está...impecável!
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Um snap cheio de chama
Um
dos piores exercícios que se pode fazer é o de tentar comunicar
com alguém que tem um telemóvel na mão. Mergulhamos de cabeça
numa conversa produtiva e o ouvinte retira-nos a piscina de 20 metros
cheia de água e substitui por uma borracha insuflável de bebé com
50cm de líquido . Somos votados ao desprezo na parte em que iríamos
discutir a génese do problema da corrupção, quando ele recebe um
sinal de mensagem da Cláudia Sofia, que entrou em directo no
Instagram a passear o cão pela trela. Enquanto ele cola o olhar no
ecrã, tentamos disfarçar a importância da conversa, reduzindo
progressivamente a intensidade do som expelido pela boca, até ao
silêncio total ou ao assobio para o lado. Quando o cão da Cláudia
Sofia acabar de fazer a sua necessidade na relva do parque, o nosso
interlocutor já está disponível para voltar à conversa e lança
um “estavas a dizer?….”. Apesar de nos apetecer mandá-lo ir
cheirar de perto as fezes do cão da Cláudia Sofia, optamos por uma
de duas opções : prosseguimos a conversa de forma inabalável como
se o nosso relevante assunto não tivesse sido enxovalhado pelo
cócó do Piruças, ou retiramo-nos educadamente com um “eu não
estava a falar de nada muito relevante,...apenas da corrupção que
invade a nossa sociedade actual e nos impede de aspirar a um
desenvolvimento relevante...sua besta alienada pelas rotinas do cão
da Cláudia Sofia!!!” .
A
patologia do afogamento ininterrupto nas redes sociais mina qualquer
tentativa de uma conversa mais prolongada, uma discussão mais
fundamentada, uma troca de impressões mais aprofundada. Basta
observar um jovem colado ao Instagram a correr de “gostos” toda
a rapaziada que encontra no caminho . Numa primeira análise, esta
correria “voyer” através do indicador deslizando no ecrã,
poderia indiciar que estaríamos na presença de um ser com muito
amor para dar. Quando perguntamos: - Sabes a quem é que colocaste o
“gosto” e porque é que colocaste o “gosto”? Correremos o
risco de ouvir: - Não! Mas isso interessa para alguma coisa?
Eis
o fundamento da escolha criteriosa: “Não sei do que gosto, de
quem gosto, porque gosto, mas sei que vou pelo... gosto”. A ideia
é que o “amigo” ache que ele gosta mesmo, quando põe lá o
“gosto”. Mas o “gosto” tem de ser rápido, na gáspia, se
possível com um “double tap” , para se partir a abrir para o
“gosto” seguinte. Qualquer frase que o amigo coloque no seu
mural com mais de 20 palavras soa a um enfadonho e interminável
romance de Vitor Hugo, porque existe ali à frente outro “amigo”
para se piscar o coração da aceitação. As possibilidades de um
Usain Bolt do “like” acabar de ler esta crónica até ao fim,
está ao nível da possibilidade de Donald Trump conseguir ter algum
discernimento na hora de pensar nos assuntos de política externa. A
verborreia de “gostos” funciona como moeda de troca pelos
“gostos” na minha fabulosa fotografia tirada junto ao mar com o
casaco comprado na Pull & Bear. Veem?! Tenho 567 amigos que
gostam do casaco verde de carapuço!...Fica-me mesmo bem. E a Joana,
aquela boazona do São Mamede de Infesta, ainda comentou com um
“Uiii, grande gato” e um “emoji” amarelo com 2 corações a
piscar no lugar dos olhos.
A
evolução das redes sociais vai no sentido de acelerar ainda mais
essa correria em busca da meta, aproveitando para ir dando chapadas
nas mãos dos “amigos” que se vão colocando ao longo do
percurso. Aonde fica essa meta? Coincide mais ou menos com a altura
em que o pai irritado grita: “Apaga já essa trampa a que estás
ligado há quatro horas e vem aqui ajudar a colocar a loiça suja na
máquina!!!” . Para evitar esse cenário apocalíptico de não se
conseguir dar um fixe na mão de todos os amigos, tentou-se agilizar
a coisa: Passou-se do Facebook (imagens e alguma conversa), para o
instagram (avança-se logo para as fotos e que se lixe o paleio) e
para o Twitter (sem imagens e com muito pouco paleio). Para um amigo
que estende mais a mão ou pede um autógrafo no caminho, a coisa
pára por momentos, numa breve mensagem no Whats app ou no
Snapchat, mas um bocado a contragosto por esta perda de tempo apenas
com uma pessoa. Apesar das chapadas parecerem ser dadas ao acaso,
perdidas na fúria veloz da progressão, existe uma selecção
implícita nas mãos em que se toca, que tem por base o pensamento
altruísta “Ai este foi o gajo que não colocou “gosto” na
minha foto esplêndida a trincar o cachorro quente nas festas da
Louriceira? Então não leva “gosto” q’é p’ra’prender!!!”
A
busca incessante de exposição e imposição aos outros operou uma
mudança de paradigma nas rotinas diárias. A alteração de critério
é visível. Hoje escolhe-se a pastelaria, não por ter a melhor bola
de berlim com creme, mas a que possuiu a melhor rede Wi-fi;
Decide-se o momento de surf de acordo, não na qualidade e magnitude
das ondas, mas com a hora do dia, em que a luz na máquina
fotográfica melhor realça o glúteo metido no fato de banho da Rip
Curl; a viagem à Índia não é escolhida pela procura de novas
culturas, mas na concretização da foto junto daquela casa grande,
branca, muito gira, uma tal de Taj...qualquer coisa, que liga muito
bem com o tom do casaco vermelho comprado na Zara.
Mandei
o meu filho apagar o telemóvel e ele respondeu-me com um “Só um
momento, que vou enviar um Snap para manter a “chama”
acesa”…?... É uma tal “chama” da amizade virtual, alimentada
pela foto que todos os dias envia para os 280 “amigos”; uma coisa
verdadeiramente personalizada. No caso das nossas rotinas
domésticas, a “chama” da loiça suja mantém-se acesa sempre que
a metemos na máquina, pressionamos o botão e ela aparece lavada.
Como tal, o Snap chat que enviei célere ao meu descendente foi “Ou
apagas já essa...coisa, ou a “chama” voará para junto do canil
dos nossos cães!...” Pode ser que eles aproveitem para fazer um
directo das suas rotinas intestinais...no relvado da Cláudia Sofia.
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