Já é oficial. Vitor Macedo foi coroado como o Rei
dos catalisadores. Depois de anos a desenvolver um trabalho árduo na procura
deste título nobiliárquico, eis que surge o reconhecimento público pela sua vasta
obra. Sabia de antemão que estaria em desvantagem, por não descender de nobres
linhagens, mas não baixou os braços, meteu mãos à rebarbadora e finalmente foi
recompensado. Especializou-se no ramo automóvel , mais especificamente na área
dos catalisadores, desenvolvendo competências únicas na arte do gamanço dos
mesmos. Criou a técnica inovadora LSGF (Levanta, Serra, Gama e Foge) , mas cedo
percebeu que faltava aperfeiçoar o último skill. Depois de levantar o carro
alheio com um macaco, de serrar o catalisador e apoderar-se dele em tempo
recorde, coloca-se em fuga mas é frequentemente apanhado pela polícia.
Curiosamente foi essa sua lacuna na técnica do “Foge” que o trouxe para as
luzes da ribalta. Desde Maio foi caçado
pela polícia 6 vezes em fugas com contornos hollywoodescos em carros roubados e
estampaços em contramão. Depois de levado a tribunal foi sempre posto em
liberdade, mesmo com os 140 processos crime no currículo. Os juízes decidiram dar-lhe a oportunidade de
melhorar essa aresta ainda por limar, da fuga em segurança. De qualquer das
formas, o título de Rei já ninguém lho tira. E com toda a Justiça…envolvida. Estava
eu a matutar nesta particularidade nacional
do ladrão coroado rei e lembrei-me da Alice, a tal do país das maravilhas. Reza
a história que “Alice, segue um coelho e é projetada para um novo mundo. Aí é
confrontada com o absurdo, o impossível, questionando tudo o que tinha
aprendido até então”.
Alice é recebida por Marcelo à entrada do mundo
lusitano. “Minha querida, seja Benvinda a este país Maravilhoso. Se quiser
fazer uma selfie dê-me aí a sua máquina e faça um sorriso enquanto eu lhe
espeto uma beijoca na face. Eu sou um
presidente especial. O Rei das Selfies e das beijocas. Sou um positivista por natureza; comigo no
comando vai tudo correr bem…mesmo que pareça estar a correr tudo muito mal” . A
chamada maravilha da transformação.
Alice ficou maravilhada com a receção feita pelo próprio rei das selfies
e entrou num sumptuoso carro elétrico que tinha à sua espera. “Nós aqui somos
pela ecologia; quase autossuficientes em energias renováveis. Estamos só à
espera que uma montanha, que temos ali para os lados da Guarda, arda mais um
bocadinho, para que as nossas reservas de lítio fiquem totalmente disponíveis,
e cada português possa finalmente comprar o seu Tesla”. Até porque o preço da gasolina está pela hora
da morte, por causa da pandemia, da guerra na Ucrânia, da seca extrema, da fuga
das gaivotas para as berlengas. “Quer mais uma selfizita com este esplendoroso edifício
do ministério das finanças ali atrás? Representa um dos símbolos da nossa arte
de subtração de bens a terceiros, sem recurso a rebarbadora e de forma
totalmente legal. Com sorte ainda apanhamos o Leão a fumar a sua cigarrada à
varanda, enquanto congemina uma nova aplicação de impostos com a técnica
inovadora LSGF criada pelo Rei dos Catalisadores.” Alice acedeu a mais uma
selfie. “Tenha cuidado com esse buraco
no passeio, porque hoje é sábado e as urgências pediátricas estão fechadas. Não imagina o sucesso desta estratégia
inovadora em termos de afluência aos
serviços de saúde. Depois do outro Macedo ter aplicado a rebarbadora nos gastos
supérfluos do SNS e da Martinha ter investido em força nas zaragatoas, percebe-se que há muito
menos crianças a cair, muito menos urgências a sair e muito menos grávidas a
parir. O nosso SNS é uma maravilha da eficácia!” Alice continua na sua
descoberta, atónita com tanta bizarrice e questiona o Rei sobre a magnitude
daquela fila enorme em frente de uma loja de livros. “São os Coldplay! Granda
banda pá!” Grita de forma efusiva Marcelo tirando selfies com toda a malta da
fila “É para lhes dar ânimo nesta luta; afinal há aqui pessoas desde a uma da
manhã. O presidente de um país das maravilhas, tem de desempenhar esse papel de
proximidade, de afecto e carinho.” E continuava “sabe que nós somos um dos
países com mais festivais de verão do
planeta. Muita luz, muito sound byte, muita loucura, muita ganza. É sinal que a
malta anda contente e cheia de massa para gastar”. Alice, já um pouco
extenuada, pergunta ao rei da selfie se não havia neste país das maravilhas as
tais cartas falantes de que tinha ouvido falar…“Claro que temos a nossa maior
carta (quase)falante, o nosso ás de trunfo, o nosso guia espiritual! Veja ali sentado
no trono, rodeado por jerricans, rebarbadoras e notas de 100 euros. O Rei dos Catalisadores!
Este tipo representa todas as virtudes do nosso sistema humanista e tolerante.”
Apenas aqui neste país das maravilhas seria possível um tipo gamar à fartazana
às claras e ser coroado rei. Já se
tinha tentado algo do género com um
ex-primeiro ministro, mas esse ainda ficou um tempito na choldra, antes de sair
radiante para o sol da Ericeira. O Rei dos catalisadores continuará no trono,
já a pensar no upgrade da sua técnica juntando a sigla “R” de Riso. O Riso que
caracteriza a chacota perante um divertido sistema judicial que se comporta ao
nível de um festivaleiro de verão; muita
luz, muito sound byte, muita loucura, muita ganza. “Quer fazer uma selfie aqui
comigo e com o Rei dos Catalisadores?” pergunta Marcelo para Alice. “Sabe, eu
venho de uma obra literária nonsence, onde os animais falam , as loiças ganham
vida e a Rainha de copas manda cortar cabeças quando a incomodam. De momento, não
preciso de presenciar mais absurdos. Quero é voltar a encontrar o raio do coelho
para me tirar deste sítio, não vá a rainha de copas aparecer e mandar a mão ao pobre do Rei dos Catalisadores,
terminando de forma dramática este regabofe.”