quinta-feira, 17 de junho de 2021

O empurrãozinho

 

Venho assumir aqui que pertenço ao restrito lote de ovelhas tresmalhadas que oferece resistência à toma da vacina  anti-covid.  Eu sei que a maioria dos leitores se insurgirá de forma veemente contra por esta abominável falta de civismo. A Task Force com toda a sua bélica eficácia já previa que existiriam alguns dissidentes deste espírito de grupo da aceitação sem questionar a pica no bracinho em prol do bem comum. Não foi em vão que foi escolhido o Vice-Almirante para colocar o tal líquido milagroso no músculo da grande maioria da população. Habituado aos cenários de guerra, vestiu o camuflado para combater condignamente essa luta contra o vírus, que serve simultaneamente para não o conseguirem reconhecer misturado na folhagem do olival de Serpa na hora da multidão lhe pedir um autógrafo.  Para terminar ou agudizar este estado de indignação dos meus amigos, colegas e transeuntes, quando ficam a saber que não tomei a vacina, vou tentar sistematizar a imagem que me vem à cabeça nestes momentos: A prancha de 10 metros da minha piscina de juventude. A memória do miúdo a subir a medo a longa escadaria, espreitar a medo pelo bordo da prancha a água lá em baixo e aquelas mãos do grandalhão atrás dele a empurrarem as suas costas em direção à água…para ele perder o medo!? Foram estas mãos que me começaram a incomodar, na hora em que eu estava ainda a tentar recolher informações de outras fontes esquisitas, que não as do mainstream.   Toda a malta subiu freneticamente a escada em fuga do malfeitor e sem mais demoras fez o que pareceu mais correto: lançou-se à água sem mariquices. Os chatos ficaram para trás, em busca de verem respondidas algumas perguntas como: a água está quentinha ou fria? Se cair com as pernas um pouco afastadas o que acontecerá ao meu aparelho reprodutor? O que é aquele verdete agarrado à margem e as larvas a boiar ali no meio? Posso olhar para trás para ver se o malfeitor vem mesmo a subir as escadas? O chato é questionador por natureza. Não acha piada ao camuflado do Vice-almirante e questiona porque raio está assim vestido numa visita a um bairro de pescadores de Peniche; pergunta porque é que todas as televisões, dão todos os dias, desde há um ano e meio, as infeções por covid e não as mortes por enfartes ou cancro; questiona a invenção meteórica da vacina e o enriquecimento meteórico dos  laboratórios farmacêuticos; não percebe bem a enternecedora  frase “os benefícios suplantam os riscos”  ; pergunta porque raio a vacina anti-covid não evita voltar a apanhar o covid sem o “anti” e  transmiti-lo de novo ao coletivo imunizado; questiona a pressa com que o querem empurrar da prancha sem ver respondidas algumas das suas questões. 

 O chato recebe uma chamada da senhora do SNS a perguntar porque é que respondeu negativamente à mensagem da toma da vacina. Minha senhora, mas o chato aqui sou eu! Sou eu que questiono. Já agora pode-me informar porque é que a senhora tomou a vacina? Aproveito e tenho aqui mais umas duvidazinhas que gostaria que me esclarecesse, podemos começar por aquela do camuflado…..

Um amigo dizia-me no outro dia que era a favor da liberdade de escolha individual, mas defendia que quem não quisesse tomar a vacina, caso ficasse infetado, deveria pagar os custos do seu eventual internamento. Tem olho para a resolução do problema de financiamento do SNS. Poderia ter alargado a abrangência da medida e acabava com as despesas de internamento  de toda a malta que toma opções duvidosas: do obeso por ter comido fast food em barda, do fumador por não ter ligado às imagens dos maços de tabaco, do velejador por não ter tido cuidado com o sol, do  apreciador de gin por ter mergulhado de cabeça no vodka, do ginasta por ter dado um salto mortal a mais no elemento gímnico. Poderíamos assim canalizar os impostos afetos a essas despesas  indevidas, para aquisição de mais vacinas e testes anti-covid, em prol do bem comum.

Um estudo revelava hoje que Portugal é o país da união europeia onde a população tem mais confiança nas vacinas contra a Covid-19 , com 95% dos inquiridos a considerarem as vacinas seguras. E os portugueses são também a população que mais suspeita que as vacinas contra a Covid-19 poderão ter efeitos a longo prazo, perfazendo um total de 77%....????... Somos claramente um povo que vive o hoje e que se lixe o amanhã. Hoje sinto que é seguríssimo mandar 8 shots de seguida aqui no bucho! Amanhã a ressaca? Logo se vê...mas penso que não augura nada de bom.

Eu ainda estou no grupo dos 5% de chatos tresmalhados. Provavelmente poderei mudar de opinião, como fui mudando ao longo de toda esta pandemia. Só não consigo pensar bem com estas mãos coletivas a pressionarem a minha omoplata rumo ao plano de água lá em baixo, enquanto decido se o que vejo a boiar é uma larva, uma cagadela de pássaro ou um nenúfar. Quanto ao miúdo da prancha de 10 metros, depois de ter mandado uma dolorosa chapa de costas naquela empedernida água e de ter sentido os rins a sair pelo intestino, olhou para cima,  com a larva ainda enfiada entre os dentes e, na ponta da prancha espreitava o tipo que o empurrou, a gritar: É pró teu bem, miúdo!