domingo, 10 de novembro de 2013

As broas pelo canudo da produção


“Meninos cheguem aqui para prepararmos o dia dos bolinhos!...”… “mas ó pai …” “Shiu não me interrompam.  Tu podes levar aquele saco às riscas e tu o saco com as galinhas desenhadas..” “ Mas pai, tu não sabias que…”, “Esperem, que agora temos de planear o roteiro. Poderíamos apostar na rua da avó, que tem aquela senhora simpática…”, “ Ouve, ainda não percebeste que…”, “Mas deixam-me acabar ou não??? Íamos naquela senhora simpática, das broas de mel e no senhor de bigodes das nozes e dos rebuçados de frutas…” “Pai, já podemos falar?...Tu queres saber que…” “ E temos de saber onde espalhamos as guloseimas, se em nossa casa ou na casa da avó…”. De forma contundente e sincronizada, os miúdos gritaram, interrompendo o périplo imaginário : “Paiiii!  Já não vai haver o dia dos bolinhos!!!” …(silêncio aterrador)….. “Que raio estão a dizer?...” “É verdade, já não existe o feriado do dia 1 de Novembro, para podermos encher os sacos de guloseimas”. Os meus filhos lançaram um olhar de piedade perante o olhar de desilusão do progenitor. “E, e,…então e os bolinhos? As broas de mel e de canela? As nozes e os chocolates? Os toques nas campainhas e nos batentes? O sorriso das pessoas simpáticas e o silêncio das pessoas enclausuradas atrás das cortinas? O enfartamento pós enfardamento?”…Grandes estafermos!  Transformar este fabuloso e doce feriado, num deprimente dia útil, para quê?...para aumentar  a produção laboral. Ah, assim está bem! E de facto a produção  subiu em flecha. O suficiente para exportarmos mais 20 pares de sapatos , 100 embalagens de sardinhas enlatadas e 40 pistões para a indústria automóvel. Aliás, dando seguimento à invulgar capacidade de produção dos nossos governantes. Conseguem produzir cortes à catanada como ninguém, produzir ministros que gostam dos açoites angolanos nas nalgas como ninguém, produzir impostos como ninguém, produzir dívida como ninguém, produzir cálculos matemáticos como ninguém, produzir riqueza como ninguém…???..., desculpem confundi-os com aqueles tipos que estão mais a norte,… p´rós lados da Noruega.  Temos pois os mestres da produção ao leme do barco lusitano. Basta olhar para a aglomeração de deputados que inundam todos os dias a assembleia, que se empurram em busca do melhor lugar sentado, rivalizando com o acotovelamento dentro do metro à hora de ponta, para percebermos a vontade quase esquizofrénica de produzir trabalho. E essa produção de trabalho é de tal forma assertiva que conseguiram fazer corresponder na perfeição (através dos tais cálculos matemáticos) toda a massa da redução salarial, ao valor dos encargos para o próximo ano com as PPPs.  Ou seja o dinheiro que retiram todos os meses a quase 10 milhões de portugueses, entra directamente nos bolsos dos blasers das chefias das…26(?)  PPPs, negociadas pelos amigos das chefias. A proporcionalidade do números (10 milhões para 26)  poderá reforçar a sigla das ditas sugadoras de capital: muitos Produzem Para Poucos comerem (e não serão broas de mel). Com o incremento exponencial da produção gerada neste dia dos bolinhos, poderemos continuar a aspirar a pequenos luxos como suportar o aumento das despesas dos gabinetes ministeriais para este ano em 3,8 milhões de euros. Parece que os tipos já nem tinham verba para um cafezito a meio da manhã. Ou a manutenção das escolas privadas suportadas por dinheiros públicos, junto de escolas públicas…confusos??...eu também, mas eles é que são os especialistas na produção.

Apesar de todos os ganhos inerentes à conversão do dia dos bolinhos em dia de trabalho (todos trabalhámos cheios de vontade e produzimos à bruta) , continuo a não me conformar com o facto dos meus filhos, não terem trincado as broas de mel da senhora simpática. E se as broas tivessem contribuído para o aumento da produção de alguns nichos do mercado empresarial?…aumento da produção? Onde, onde?? No trabalho dos pasteleiros de broas; no trabalho dos dentistas tratando das cáries produzidas pelas broas deliciosas e no trabalho dos médicos resolvendo problemas de obesidade infantil produzidos pelas broas. Mas estes pequenos nichos serão insignificantes quando comparados com enormes ganhos de produtividade.  Como tal, ainda bem que os miúdos não tiveram o fugaz prazer de falar com a senhora simpática, uma vez que  o trocaram por algo mais grandioso. O final deste feriado dos bolinhos foi, adulterando a emblemática frase lunar, Um pequeno passo para o Homem, mas um grande passo para a…Produtividade.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

sábado, 28 de setembro de 2013

O milagre da transformação segundo o outro Jesus




Sempre tive algum fascínio pelo filho com “nome do ídolo”. A decisão de baptizar os filhos com nomes de pessoas que se admiram, traz a esperança de que o descendente consiga trilhar um caminho de sucesso similar ao dos seus inspiradores. Chamar a um filho Viriato, é aspirar a que o petiz herde alguma da virilidade desse bravo guerreiro lusitano, que despachou à pedrada os invasores romanos. Na década de 60, muitos foram os Eusébios que cresceram na ambição de aplicarem nas bolas de rua a potência de remate do rei da bola moçambicano.  O pai de Cristiano Ronaldo inspirou-se no nome do presidente americano Ronald Reagan, o actor/político, na hora de escolher o nome para o filho. Parece que o rapaz não deu em político, mas aos pontapés na chicha, comprou mais casitas e Ferraris do que o tal do Ronald original.  Muitos serão os Tonys nascidos na última década, fruto das barrigas saltitantes das mães nos concertos do pavilhão atlântico ao som do “Sonho de menino” do seu ídolo musical. Aquele comentador político de televisão, que outrora foi primeiro ministro, carregou sobre os seus ombros o apelido de um dos maiores filósofos Gregos. Sócrates, o Filósofo, colocou ao dispor do seu herdeiro de apelido uma vasta obra de sábios pensamentos, para que ele pudesse ter uma ajuda na hora de construir a sua personalidade. Pensamentos como “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” ou  “A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.”, retratam  de forma fidedigna como Sócrates, o político, quis levar à letra a sabedoria de tais ensinamentos…
Passemos então ao top da tabela de ídolos seguidos. O apelido Jesus. Uma pessoa que decide apelidar os seus descendentes, com um nome desta magnitude bíblica, deverá alimentar dois tipos de ilusão: a de que o nome trará sorte e bênção ou de que o nome servirá de inspiração para que os seus utilizadores consigam seguir os ensinamentos de Jesus Cristo.  Olhando para Jesus, o outro, o treinador de futebol, à partida nada nos faz lembrar Jesus de Nazaré. Começa logo porque na altura não havia pastilhas gorila e caso houvesse deveria ser proibido roê-las com a boca aberta ; depois a pronúncia hebraica tinha pouca similitude com os “prontos” do dialecto da Amadora;  poderíamos tentar ir pelas semelhanças do discurso de Jesus Cristo nas suas palestras de evangelização: “Deus não lhe dá mais do que pode carregar”. Jesus, o treinador riposta: “Vocês os quatro, formem aí um triângulo!”…não me parece…
Finalmente descobri uma luz ao fundo do túnel. A luz apareceu depois das declarações de Jesus, o outro, no rescaldo da cena de pugilato com um polícia para libertar um adepto.  Já que não conseguia comer pastilhas de boca fechada, falar dialecto hebraico, nem articular frases com algum sentido, decidiu ser verdadeiramente ambicioso e operar um milagre ao nível do seu ídolo. Tal como Jesus de Nazaré conseguiu devolver a visão ao cego de Jericó e transformar água em vinho, Jesus, o outro, decidiu também adoptar o seu próprio milagre da transformação. O milagre do vinho até lhe daria algum jeito, mas optou por outro de maior amplitude. Conseguiu transformar aquele personagem de cabelos brancos enraivecido, aos berros e aos murros a um polícia, num herói e guerreiro Viriato aos murros a um malfeitor polícia,…(mas não pode mandar murros no polícia?)…, bom,…num arcanjo de cabelos celestiais passando suavemente a epiderme da palma da mão nos braços vigorosos do agente da autoridade. “Mas Jesus, as imagens foram explícitas. Viu-se que o senhor espetou uns valentes selos no braço do polícia, que até lhe saltaram os óculos!”….”Só lhe saltaram os óculos? Eu queria era que saltassem os olhos a esse filho da p***a do bófia!”. “Mas sabe que pode ser punido na justiça?”...“Bom, antes de mais não foi agressão (aqui está o milagre), foi apenas uma ligeira exaltação com o intuito de proteger o adepto (aqui está a solidariedade). Mas desde já peço desculpa ao senhor agente (aqui está o arrependimento cristão) se levou a mal as festinhas que lhe fiz”. Mas Jesus promete não ficar por aqui em questões de milagres e fazer jus ao nome que enverga. Já estão na forja outros, tais como deixar perder campeonatos nos últimos minutos, ou transformar pães em rosas…Esses já existem??...que pena…
Por falar em milagres no mundo do futebol, eu próprio assisti a um milagre da transformação, que pela sua finura, não consigo deixar partilhar com os leitores. Ao acompanhar o meu filho a um dos seus jogos infantis, a equipa da casa, antes do início do jogo uniu-se para presentear os pais e espectadores com o seu grito colectivo. A disposição prometia algo de arrojado, e arrojada a coisa fluiu. O capitão gritava a palavra de ordem e a equipa iria atrás: “Somos as malta da Picha de aço! Aço,aço,aço! Com os co**ões a marcar passo! passo, passo, passo!”.   Quando a perplexidade me invadia o pensamento, no sentido de perceber quem tinha sido a besta que punha miúdos a gritar aquilo, olhei para o lado e, os pais, ao invés de indignados, aplaudiam de forma orgulhosa e efusiva os seus petizes. Eis o milagre da transformação:   A transformação de putos malcriados em crianças motivadas.   Já haverá alguém a sugerir a Jesus que importe este tipo de milagre para a sua equipa. Obviamente ele responderá: “não te esqueças que o meu nome é Jesus. Esse milagre é p’ra…meninos!!!”        

terça-feira, 10 de setembro de 2013

No país do Ao Menos

Estava a tomar a bica matinal e a minha orelha esquerda foi ao encontro da conversa dos dois tipos que mandavam abaixo duas bejecas também elas matinais. Dizia um para o outro: “Epá o meu primo Manecas, já está desempregado há mais de um ano e não arranja nada!”. Depois de limpar a espuma da cerveja dos pêlos do bigode, o amigo responde: “Eu ao menos ainda tenho o meu empregozito, que me paga 400 euros ao mês… Espero não ter o azar de ser despedido.” Aqui está o “Ao menos” metido no meio da frase e que traduz esse sentimento de relativização bem português. Roubaram-te a carteira e o telemóvel à saída do eléctrico? Ao menos deixaram-me a roupa e o boné; Foste espancada pelo teu marido bêbado depois da derrota do Benfas? Ao menos só me partiu 5 dentes e o maxilar inferior; O presidente da Câmara não paga 100 milhões de euros aos fornecedores? Ao menos fez umas avenidas e umas rotundas espectaculares. A ministra das Finanças esteve envolvida no negócio das Swaps que lesou o país em grande? Ao menos veste uns blasers beges muito elegantes. A justiça não mete na cadeia os tipos do BPN? Ao menos a malta sabe quem eles são. Os incêndios continuam a queimar a nossa floresta todos os anos? Ao menos ainda nos restam os relvados dos jardins públicos. O dono do restaurante ganha 50 cêntimos por cada refeição económica que vende? Ao menos ganha 50 cêntimos por cada refeição. Trabalhas 10 horas por dia a 400 euros mensais? Ao menos não estás desempregado. E voltámos ao início da conversa. A conversa do “Ao menos” tenho um emprego, com tudo o que de subversivo transporta. Parece que os ordenados baixam porque existe muito desemprego e as pessoas em desespero sujeitam-se ao “Ao menos” que vier. A coisa funciona assim: um patrão comunica ao empregado com 20 anos de casa que vai ter de lhe baixar o ordenado para metade se quer continuar a trabalhar ali. O empregado incrédulo pergunta “Mas existem menos encomendas? …existe prejuízo?” o patrão responde eloquente “tenho 100 jovens desempregados que se ofereceram para a tua função e a ganhar metade”. E continua “São as leis da liberalização do mercado, os custos de produção diminuem, competimos com a China e o meu lucro será maior! Tens de pensar que reduzes o salário, mas ao menos continuas connosco!...”. Neste “Ao menos” surge o que de pior tem a condição humana: A exploração voluntária das debilidades alheias. Vendem-se garrafas de água a 20 euros o litro para quem vive no deserto; Vendem-se medicamentos a 100 euros a caixa para quem tem dores reumáticas crónicas. Vendem-se cadeiras de rodas a preços de automóveis, a quem fica paraplégico; Vende-se a casa por 1/10 do seu valor, para se poder comprar comida para casa. Trabalha 10 horas por dia a 400 euros mensais, porque precisa de um emprego para sobreviver. Voltámos de novo ao nosso “Ao menos” tenho este emprego. E o “Ao menos” tem hoje um aliado de peso, a “Troika”. “Ó António, eu até te queria pagar mais, mas sabes…a Troika está a dar cabo disto; ao menos sempre ganhas qualquer coisita…”. Ou seja a “Troika” funciona aqui como a grande responsável do “ao menos”. Gostaria de trocar, sem ter de emigrar, este país do “Ao menos” , por um país do “Eu quero mais”. Eu quero mais competência na gestão do país; Eu quero mais tempo livre para estar com os meus filhos; Eu quero mais patrões que percebam os benefícios de terem funcionários satisfeitos; Eu quero mais políticos independentes de interesses ocultos; Eu quero mais pudor e responsabilidade; Eu quero mais ordenados que possibilitem viver com dignidade. Mas é a tal liberalização dos mercados… E com a liberalização económica chegou a liberalização moral, onde tudo é aceitável, desde que o lucro financeiro esteja garantido. Tento fugir da sina da resignação implícita ao “ao menos”. Para começar a minha terapêutica do “eu quero mais” decidi que não voto mais em partidos políticos. “Epá, mas não percebes que há algumas pessoas boas dentro dos partidos políticos e que eles é que têm de nos governar!” . É verdade sim senhor, mas ao menos eles ficarão a saber que eu quero mais…

sábado, 1 de junho de 2013

A fronteira da rede ovelheira

Tenho onze ovelhas a comer a erva do meu terreno. Fiquem os benfiquistas descansados que não se trata de qualquer referência ovina a uma tal equipa bafejada pelo azar dos momentos finais. Até porque ser ovelha não é sinónimo de azar; a não ser quando a metem na carrinha rumo ao matadouro. Por falar em matadouro, afinal já não são onze ovelhas, porque uma teve o azar de embarcar na tal carrinha. Não, e não foi porque se portou mal ou por  ter sido agressiva (parece que existe uma raça de ovelhas paraguaias que costumam investir sobre os donos); o animal estava muito doente e cabisbaixo.
Confinei as bichas a metade do terreno, e elas trataram de meter a sua dentição trituradora em acção, a um ritmo de 50 gramas de feno por segundo, ou seja, muito feno em  pouco tempo. E se a ovelha tem apetite. Parece mesmo ser o seu único objectivo na vida pré-matadouro; “Deixa-me encher o bandulho, porque ao menos, quando me quiserem fazer a folha, terão de acartar com mais uns quilos sobre os costázios”. Basicamente a ovelha come, rumina e dorme. Não joga ás cartas, não comenta a roupa da vizinha, não diz mal do treinador Jesus, não ouve comentadores desportivos. Aos poucos comecei a perceber que nutria algumas afinidades com as bichas: o prazer em dormir e comer (ainda não consigo ruminar) e a apetência  pelo verde como cor dominante. A ovelha está a trucidar o pasto seco e amarelado pelo peso das suas patas e a mandar o olho ao resplandecente verde que lhe acena do outro lado da vedação. Uma verdadeira crueldade. Como  a imagem de um sem abrigo a roer uma côdea seca, encostado ao vidro de uma churrascaria a ver coxas de frango saírem do carvão rumo ao prato de outros. A fronteira definida pela rede ovelheira separa o seco do frondoso, o insonso do temperado, o sensaborão do apetitoso. E é ver as bichas trincando o pasto seco dia e noite, tristes e cabisbaixas, sonhando com o dia em que a vedação vem abaixo e conseguem alcançar o éden vegetal. Percebi ainda melhor essa obsessão pelo verde, quando peguei no serrote e as vi correr desenfreadas rumo à vedação. Será que confundiram o verde do serrote com o verde de uma alface?  Não. As ovelhas percebem que a imagem do serrote, antecede o som do serrote, que antecede o ruído de um ramo cheio de folhas verdes a cair no chão, que antecede  o momento da folha da oliveira a passar pelas suas papilas gustativas. E aí estavam elas todas pimponas a lançar pelas goelas, desenfreados mééés e a esfregarem as patas por um daqueles bitoques em forma de rama. Serrei o ramo e os méééés aumentavam de volume. Arrastei a folhagem para o outro lado da vedação e as bichas acotovelavam-se quais refugiados num campo da Somália e trucidavam-na num abrir e fechar de olhos.  Ao ver aquele cenário, não consegui de deixar de pensar no significado da fronteira entre o seco e o verde. Lembrei-me que aquela vedação poderia representar a linha que separa Portugal dos seus “parceiros” europeus. Nós, umas ovelhinhas famintas rapando a erva seca misturada com grãos de terra, e eles, uns empertigados cavalos puro sangue  que passeiam e largam bosta sobre um prado verdinho, a que o borrego faminto chamaria um figo. Nós, rapando o fundo das contas bancárias para conseguir pagar todas as facturas mensais, e eles, enchendo os depósitos dos Mercedes para rumar às suas casas de férias na Baviera.
Naquela tarde serrei alguns ramos, mas só enviei para a boca das ovelhas alguns deles, não fossem elas habituarem-se ao bem bom do verdinho e deixarem o prado seco para outro ruminantes. Ao fazer uma fogueira com outros dos ramos serrados, senti-me mal. Ali estavam elas de cabeças espetadas na vedação com o olhar colado na rama verde e eu, queimando o seu sonho alimentar. Senti-me um malvado “Merkel” , que grita: “Queriam estas folhas verdinhas no bucho?...vão mas é rapar o pasto seco que paparam em menos de um fósforo!...Quando o pasto seco acabar?...pode ser que vos envie mais uns quantos raminhos de oliveira, mas poucos, para não se habituarem à fartura…”.

A crueldade suprema é que a ovelha vê, pelos buracos da vedação, que logo ali tão pertinho o petisco existe.  E se se erguesse um muro que impossibilitasse a visão do bicho? Ou então uns óculos pintados de verde para que o animal visse o amarelo em tons esverdeados?...Não resulta, porque a ovelha tem olfacto e porque já viu, cheirou e trincou o que existe do outro lado da vedação. O curioso é que a ovelha permanece ali passiva, sem empurrar a vedação, roendo desconsolada a erva seca e o torrão, à espera que alguém lhe lance um raminho cheio de folhas verdes.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Eu conto com o Continente



O anúncio da  Dona Florinda Ferreira a dizer que “Conta com o Continente” deixou-me …contente. E isto porque a senhora estava ela também radiante ao dizer que “no meu tempo não havia nada disto...e agora há!”. E eu pensei: agora há o quê?....E a dona Florinda responde “Pá de porco com osso a 1 euro 79 cêntimos”…?...Deveria ser um equívoco. A forma efusiva com que a senhora dizia que contava com o continente, assemelhava-se ao contentamento de um miúdo a aprender a contar e a dizer “Eu conto com a Galinha Pintainha!”. Ó dona Florinda, diga-me lá quem é esse Continente que a deixa assim?  “No Continente há arroz carolino a 0,69 cêntimos!”. Não percebeu o que eu disse. Numa altura em que todos desejamos ver uma luz ao fundo do túnel, um rasgo de esperança no meio do flagelo social, as palavras da senhora espelham essa ilusão de podermos contar com alguém competente e sério para nos tirar do buraco, uma espécie de Zorro dos tempos modernos.  “E o quilo e meio de cebola embalada a 0,89 cêntimos?”.  Deixe-se  disso e diga-nos  quem é esse enigmático “Continente”. Quando a dona Florinda diz confiante: “Eu conto com o Continente” o meu imaginário infantil trata logo de transformar o personagem continental num super-herói que nos vai salvar das garras dos malfeitores. Estou a ver a grande notícia: “Mister Continente veste o seu fato verde, entra a voar dentro do parlamento com a capa abanando ao vento do ar condicionado  e, num simples mas poderoso sopro, consegue transformar 230 inertes seres  em 20 vigorosos governantes, daqueles que conseguem…governar o país.  Mas esperem, que na maioria dos dias o seu sopro atingiria, na melhor das hipóteses, uns 30 deputados. Mas Mister Continente pensa em tudo, só escolhe os dias festivos para actuar; poderia ser naquele dia dos cravos e no outro da “Implantação” de qualquer coisa…deixa cá ver… acabada em “blica”. Depois dessa acção de transformação cirúrgica, esvoaçava para os grandes gabinetes de advogados e, num simples mas poderoso sopro, transformava-os em seres de intelecto normal, para não entenderem as leis que criaram para salvar os seus ricos e corruptos clientes, transformando assim impunidade em justiça. E Mister Continente continuaria a esvoaçar a sua esplendorosa capa verde convertendo tudo o que é silvado, em campos de margaridas em flor (não resisti a uma analogia poética). “Mas no meu tempo não havia pescada fresca a 3 euros e 99 cêntimos!”. Agora chega Dona Florinda!!!  Tenho de ripostar: No meu tempo não havia 20% de desemprego; no meu tempo os governantes  tinham de ter mais do que 23 anos; no meu tempo conseguia dizer o nome dos jogadores do plantel do Sporting; no meu tempo  não havia a Golden & Sachs; no meu tempo não pagávamos 1,4 por cada litro de gasóleo; no meu tempo não existiam contratos de PPP ou swap.  A dona Florinda não baixa a guarda e lança “No  meu tempo não existia amendoim com casca torrado a 1 euro e 49 cêntimos”. É lá, com essa arrumou-me!...Temo que tenhamos de voltar à terra, deixar de imaginar um Mister Continente para nos vir salvar, e assumir de uma vez por todas que nós só poderemos contar com o In…Continente Gaspar; aquele que continua sorver  as nossas parcas economias e as deixa sair,  para serem absorvidas pela fralda de  uma qualquer instituição financeira internacional. Abri agora um folheto do tal  Continente e não é que vi um pacote de 64 fraldas por apenas 4 euros e 99 cêntimos? No meu tempo não havia nada disto…


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Em busca da pantufa perdida




Num momento de agitação social aguda, de proliferação do desemprego a níveis nunca vistos, de recessão económica grave, hoje irei escrever sobre a minha… pantufa esquerda. Eu sei que parece um assunto de leviana futilidade no meio de tanto assunto cheio de substância, mas aqui vai...a minha reflexão sobre essa coisa que se coloca nos pés quando se chega a casa à noite, para os manter sequinhos e quentinhos. Na verdade, são mais chinelos de quarto, mas o termo pantufa é mais carinhoso e faz-nos lembrar o cãozinho  do nosso imaginário infantil. E é precisamente por pantufa estar associado a algo tão pueril e fofo, que tenho dificuldade em conformar-me  com o facto, da mesma me atazanar o bem estar. Vamos passar ao enquadramento do problema. O problema é que todas as noites de inverno, quando me levanto para ir à casa de banho (com a idade a bexiga minga e a próstata aumenta) procuro com o pé esquerdo a pantufa em falta e ela nunca está lá!  E assim se fazem as incursões nocturnas ao WC:  cambaleando de forma desequilibrada pelo sono e pelo facto de ir com uma pantufa calçada e o outro pé cruelmente sujeito às agruras de uma tijoleira fria. Já experimentei colocá-las geometricamente alinhadas, em local de fácil acesso pedonal, mas nada; sento-me na cama e o meu pobre pé gelado procura de forma desenfreada um peludo aconchego e o raio da pantufa deu de frosques. O enigma é que a pantufa é uma coisa, um objecto, que por definição não tem vida própria, não se ofende, não fala, não foge, não discute, não diz que a sopa está insonsa. Limita-se a estar, certo?...Não! a minha pantufa esquerda decidiu reivindicar; não quer pés dentro; quer permanecer livre de odores indesejados. Até aí a coisa não faz nexo. Ainda se fossem uns ténis de corrida, sujeitos a inúmeros maus tratos,  lama dos carreiros, manchas de suor, quilos de chulé, vestígios de micoses, ainda vá. Mas os meus ténis de corrida são pacíficos e fiéis, obedecem ao dono, não fogem com a amante…bom, só aquele que fugiu na boca de um cão desconhecido e nunca mais apareceu. Agora uma pantufa(?), que está todos os dias no aconchego do lar,  nem um pingo de chuva apanha no têxtil, que tem o privilégio de contactar com pés limpinhos acabadinhos de sair da banheira, às vezes até com cheiro de creme hidratante, tem de se queixar do quê? Não se queixa?...pois não!...mas foge todas as noites para debaixo da cama o que, para um ser ensonado, com olhos semi-cerrados, revoltado pela sua micro-bexiga aniquilar o sonho que estava a ter com praias tropicais paradisíacas, torna a  tarefa  de descoberta com um nível de dificuldade similar ao Indiana Jones em busca do templo perdido.
Estava eu aqui a pensar na pantufa que deveria estar lá mas não está e lembrei-me das chaves do carro…?...naquele dia que decidimos não levar o carrinho de compras ao supermercado e trazemos, qual halterofilista, 15 quilos de compras em cada mão. Numa das mãos o pack de 6 garrafas de litro e meio de água, porque a água do cano sabe a terra e a cloro, na outra 6 sacos repletos de víveres cuja pressão na palma da mão nos deixa com mais uma linha que fará as delícias de qualquer quiromante. Chegamos ao carro, pousamos as garrafas e levamos a mão livre ao bolso esquerdo em busca da chave que nos libertará da tortura produzida pelos sacos. Nada…a chave está no bolso errado!...porra!...pousamos os 6 sacos no chão, a lata de salsichas rebola pelo passeio, o iogurte de frutos silvestres é espalmado com o peso das massas, o alho francês salta borda fora e nós, perante aquela  fuga generalizada dos bens alimentares,  insultamos o raio da chave que tinha logo de estar no bolso errado.
Para dar um cunho de alguma credibilidade a esta crónica, seria conveniente, estabelecer aqui uma ponte entre  a minha pantufa esquerda e a situação política do país. Nem seria difícil; Os políticos são como a minha pantufa esquerda: Confiamos que eles estarão lá  num momento de aflição e de fragilidade ; entregamo-nos à sua hipotética competência para a função e, quando precisamos deles,…traem-nos, seja fugindo  para debaixo da cama ou para  dentro de uma qualquer multinacional . Na realidade o que eu quero mesmo é que a minha pantufa esquerda hoje à noite, não comece com historietas e trate de se encaixar no meu delicado pezinho, que ele já começa a sofrer de artroses…

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Fraude


Tentei ver a “Fraude”, a reportagem  da SIC sobre o BPN , mas terminei todos os episódios a …dormir profundamente. Percebi a gravidade da situação quando era questionado por colegas: “Epá, Viste aquela coisa da Fraude do BPN?...Aquilo é arrepiante!...Grandes bandidos!...”. Abanava a cabeça  afirmativamente , quando na realidade deveria abanar a cabeça “semi-afirmativamente…(?)”. De facto, comecei a ver mas… acabei a dormir. Como é possível adormecer perante o relato de um assunto tão explosivo? Um assunto que nos diz tanto a nós cidadãos vilipendiados pelas maroscas da máfia financeira. Com algum peso na consciência voltei à carga. Pus-me novamente a ver os programas gravados e “pumba!”,…ou antes…”rrronronca…” voltei a cair no mais profundo sono. O que se estaria a passar comigo? Fiquei desprovido da mais elementar curiosidade humana? Se o facto de uns bandidos nos roubarem 4 mil milhões de euros à luz do dia, não me desperta um estado básico de vigília,  é sinal de que o meu sentido crítico está profundamente empedernido. Comecei a pensar nas razões para o meu adormecimento prematuro e, a par das alvoradas vespertinas forçadas por obrigações profissionais, só me ocorria o “…E então? E então?..nada!..”.  O “E então? E então?...nada!…” personaliza a ausência da concretização final de um determinado acontecimento. “Aquela jogada do Zezinho foi fabulosa! Partiu atrás de meio campo, fintou 3 adversários, mandou um petardo fora da área e…”…  “E então? E então?...” , “…nada!... Mandou a bola à trave.” Fica-se com uma profunda sensação de desapontamento, quase a roçar a revolta. Esperava-se que o culminar de uma daquelas jogadas, terminasse com o esférico dentro da baliza e não no ferro. Como se espera que um encontro nocturno termine de outra forma que não: “Epá, ontem à noite engatei uma mulheraça de sonho: Um corpo fabuloso, um sentido de humor refinado, uma cara digna de estrela da cinema. Levei-a até ao quarto de hotel e…” , “E então? E então?”… “E então? Nada!...a tipa era um travesti e tive de lhe espetar um banano nas ventas.”
A reportagem sobre o BPN  (a parte que consegui assistir com as pálpebras elevadas) relatou de forma  fidedigna como todos nós teremos de pagar pelo alarve e despudorado roubo  efectuado por inúmeras personalidades da nossa praça. “E então? E então? …O que lhes aconteceu?...Nada!…”. Aí está a falta de concretização que tínhamos falado há pouco, aplicada a um acto criminoso. Um ladrão rouba uma ourivesaria. O Ourives é lesado. A polícia descobre quem é o ladrão. O ladrão é preso. Este seria o ciclo normal devidamente concretizado e que de alguma forma aliviaria a indignação da vítima.  No caso do BPN, alguns gatunos foram identificados , entre eles, Oliveira e Costa, o cabecilha do gang que, depois de ter conseguido a proeza de com os amigos nos surripiar aquela bestialidade de dinheiro, cospe pedaços de sandes mastigadas  e conta piadas numa audiência parlamentar sobre o assunto, para depois conseguir ser preso … à lareira da sua casa. E Então, e então… os amigos?...Nada!...Aliás, alguns amigos ainda andam por aí sem qualquer pudor. Um tipo que é agora conselheiro do primeiro ministro, e o outro, o  tal  recém-eleito secretário de estado que sabia, mas esperou que se torrassem mais uns milhões para depois sussurrar ao ouvido de alguém, que ouviu falar de uns dinheiritos que fugiram para umas contitas no estrangeiro.  Agora percebi por que razão adormeci ao tentar ver a “Fraude”; foi uma reacção de autoprotecção do meu organismo contra esta impunidade que apenas me faz mal.  Esta falta de concretização aliviadora da punição da gatunagem deixa-me com gastrite. A sensação de se ficar a saber que nos roubaram, seguida do “E então? E então?...Nada!” é a mesma daquela que se sente depois de uns carnais e efusivos preliminares amorosos, serem interrompidos por um “é melhor ficarmos por aqui…”.   Vivemos no contraditório dilema Revolta / Resignação, onde após a indignação surge invariavelmente a impotência. Apetece-nos apertar o pescoço a toda essa bandidagem, mas os bandidos cospem sandes no parlamento entre risos e piadas e nós, nem um bananinho nas ventas conseguimos aplicar. É por isso que adormeço antes de constatar essas barbaridades. Se numa cirurgia à vesícula, é um bocado chato o paciente estar acordado enquanto lhes escarafuncham as vísceras, porque teremos nós de rejeitar a anestesia do sono, enquanto nos escarafuncham as entranhas da paz interior?   Ontem estava a ler uma crónica de Paulo Morais, onde denunciava a ladroagem das parcerias público-privadas , com a clara conivência do solícito ministro Gaspar. O pior de tudo, é que em nenhum momento da crónica, senti as pálpebras fraquejar e fui obrigado a manter o estado de consciência até ao final. “E então? E então?...e perante esta constatação, o ministro faz alguma coisa?...nada…de muito especial!... a não ser continuar a jorrar o nosso dinheiro para algibeiras mais “necessitadas” e aconselhar o sono profundo como antídoto para todas as preocupações. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A bicheza à sua medida



Comecei o ano a ouvir as sábias declarações do ministro da saúde sobre a saúde dos portugueses. Dizia ele, que a única forma sustentável de reformar o Serviço Nacional de Saúde passará pela vontade dos portugueses deixarem de estar… doentes. A sua invulgar perspicácia descobriu que grande parte das doenças são uma espécie de fetiche voluntário dos portadores. Percebeu que a maioria da malta trocava de bom grado a plateia de um espectáculo musical pela sala de espera das urgências, só para ocupar o tempo dos médicos e sentir o encosto do frio estetoscópio sobre o mamilo esquerdo.  Conseguiu também encontrar pessoas que substituíam jantaradas cheias de gambas e vinho verde com os amigos, por endoscopias gástricas e exames à próstata ; E o que dizer de todos os indivíduos que em vez de viajarem para poder fotografar os Alpes suíços, batem o pé para ficarem por cá a fotografar  os meniscos numa  daquelas máquinas de ressonâncias magnéticas, que custam uma fortuna aos contribuintes?...e depois querem que o país ande para a frente!?...
Apesar da clarividência do ministro, fiquei com alguma pena dos novos empresários que se preparavam para explorar esse fabuloso nicho de mercado das doenças por encomenda.  Já tinham uma carteira de clientes significativa e procediam à fase da divulgação: “Deixe-se estar em casa descansado, que da bicheza cuidamos nós”. “Está enfadado? Não sabe o que fazer para ocupar o seu tempo livre? Temos a bicheza à sua medida! Basta telefonar e depressa o levaremos para uma qualquer urgência perto de si!” A oferta de bicheza ao cliente seria variada e iria ao encontro de diferentes expectativas. Assim, para os pais de crianças pequenas, existiria uma vasta gama de resfriados, gripes, gastroenterites leves, porque nestas idades, os miúdos ainda não aguentam grandes bichezas. O Pai telefona para a CNBV (Companhia Nacional da Bicheza Voluntária) e é só pedir : “Olhe faz favor, gostaria de encomendar a propagação de uma virose ao meu filho; pode ser acompanhada por excreções nasais, e alguma falta de ar; e, se quiserem uma tosse seca…para que nós possamos passar a noite acordados e o possamos levar ao hospital às 5 da manhã, estão à vontade!”.  Para adultos com algum arcaboiço, já se poderia explorar outro tipo de bicheza. Aos saudosistas, poderiam dar a escolher entre uma tuberculose, um escorbuto ou uma lepra, doenças que foram erradicadas há muitos anos atrás do nosso país, mas com efeitos tão apelativos, serão sempre bem vindas; Os que apreciam outras culturas tropicais poderiam optar por uma dose de Malária , de Dengue ou Tripanossomíase Africana . Os mais radicais, os viciados em Adrenalina, que gostam de chamar a morte por tu, entram de cabeça dentro das doenças cancerígenas, aquelas cujos custos levam o Serviço Nacional de Saúde à penúria.
Este apelo que o ministro faz para a malta se deixar dessa mania de  querer ficar doente faz todo o sentido e espero que se reproduza para outros ministérios. Assim, do ministério da Educação, deveria sair o apelo, para os alunos deixarem de ser ignorantes. Onde já se viu um aluno do 4º ano não saber nada da obra de José Saramago? No berçário já deveria ter dentro da alcofa a obra de Nietzsche “Assim Falava Zaratustra”, para ir dando uma olhadela entre duas mamadas. Quando chegasse ao bibe Vermelho, já falaria fluentemente 4 línguas e tinha memorizado a grande enciclopédia Universal.  Chegando ao 1º ano com conhecimentos do 12º ano, poupava-se numa carrada de professores, de livros, de refeições, de transportes.  Assim é que o país se desenvolve.
No ministério da Segurança social, implementariam a medida do “Não se deixe chegar a velho que o sistema de reformas assim não aguenta.” Se o indivíduo tiver ideias de entrar na terceira idade, o melhor é dar meia volta e voltar na direcção da adolescência, ou, nessa impossibilidade, passar logo para o falecimento. Gastava-se no funeral mas poupava-se muita massa nas prestações sociais, que duram muitas vezes para além dos 20 anos…(os idosos são mesmo malandros). No ministério da Agricultura, fazia-se um pedido especial ao Míldio das vinhas , ao escaravelho  da batata, ao caruncho do feijão ou à Gafa da oliveira que deixassem em paz as pobres plantinhas. E poderíamos ir por aí fora, de ministério em ministério, que rapidamente chegaríamos a uma poupança considerável nos gastos públicos, podendo mesmo chegar para pagar parte do buraco do BPN.
Ficou pois claro, que eu estou consigo nesse esforço senhor ministro. Ainda hoje contrariei essa vontade incontrolável de rumar até aos banquitos azuis do centro de saúde e comecei a comer iogurtes com bifidus activo. Só lhe queria pedir uma coisita sem importância: Acha que com este meu esforço para não ficar doente ou não chegar à velhice, me pode dispensar a terça parte do meu ordenado que me retém para impostos, saúde e hipotética aposentação? É que os iogurtes com bifidus activo estão pela hora da morte…