O regresso do Urso Pardo a
Portugal, deixou-me surpreendido. Numa primeira reacção à notícia não contive a
expressão “mas o Urso está parvo? então não estava melhor na próspera vizinha
Espanha?”. Depois de ver a declaração do Apicultor português, ao perceber que o
Urso se lambuzou com o mel das suas abelhas, percebi que o Urso está longe de
ser Parvo e que escolheu o território ideal para se instalar. “Após 200 anos de extinção, ser atacado por um
urso-pardo é um grande privilégio para mim.” Confessava o simpático apicultor sem vestígios de marcas das garras do animal tatuadas nas suas
costas. Percebe-se que não assistiu atento ao gemido de um
DiCaprio estraçalhado pelo dócil mamífero no filme Renascido. Afinal “O que valem os 50 quilos de mel que o animal
devorou das colmeias comparados com a importância do regresso de uma espécie
extinta em Portugal desde 1843?”. Ó Luis vai dizer isso às tuas abelhas, depois
de se terem esfalfado com as ventas encostadas ao rosmaninho para conseguirem produzir
5 gramas de mel por ano!? Anda uma abelhinha a dar à asinha, sugando o pólen de
5 milhões de flores para conseguir 1 kg de mel ,sem tempo para se queixar da rinite alérgica, e chega este grandalhão
peludo e zás, engole o trabalho de 2 anos de árduo esforço de 80 mil abelhas. Solidário com o trabalho das abelhas, não
deixo de sentir, tal como o apicultor Luís, uma certo carinho com o fofinho urso
pardo, bicho que faz parte do nosso imaginário infantil, sempre simpático, sempre
amistoso, agarrado alegre ao seu pote de
mel, produzido por outros.
O Urso Pardo Europeu saiu da
Cantábria espanhola para dar uma perninha a Portugal, por estar farto de ser escorraçado pelos apicultores e
pastores castelhanos, um pouco chateados
com as incursões deste aos potes de mel e às coxas felpudas das ovelhinhas.
Alguém lhe rugiu ao ouvido que assistiu
a um espectáculo fabuloso dado por um
tal de Berardo, uma espécie de urso pardo madeirense, e que aqui estaria seguro, mesmo depois de limpar
todas as colmeias da região. Esse tal
espécime proveniente da Madeira, que passou pela África do sul e se fixou
finalmente em Portugal, percebeu que poderia lambuzar-se a muitos 50kg de mel,
que ninguém diria nada, até correria o risco de ouvir “o que são 1000 kg de mel
comparados com a importância do regresso
de uma espécie extinta desde 1843?...?...ah, não está extinta?....quem?...o
Sócrates?...o Salgado?...o Vara?...o Lima?... Desculpem por essa imprecisão,
mas então, se não foi por uma questão de acontecimento histórico relevante, não
percebo bem a permissividade dos “apicultores” que tomavam conta da colmeia
CGD, perante o apetite voraz do Joe pardo. Depois
de ver o tom jocoso e alegre desse tal Berardo depois de meter as fuças no mel
(e foi mel em barda), o urso pardo espanhol, percebe que o território lusitano
é o terreno fértil para ele dar azo de forma alarve e impune à sua gula, sem
correr o risco de levar uma paulada no dorso ou uma chumbada no traseiro. Mas
atenção que se tiveres o título de comendador, corres o risco de ficar sem ele;
pensa bem nesse contratempo agressivo…
Quanto às abelhinhas, essas,
continuarão nos seus múltiplos voos diários, de rosmaninho em rosmaninho, esperando
que um dia o apicultor se chateie mesmo a sério e trate de cumprir a sua função:
escorraçar o parvo do pardo que está anafado de tanto se lambuzar com o mel
produzido por outros. E se o apicultor , também ele, sofrer de parvoíce parda, terão de ser as
abelhas a agir; afinal têm um ferrão que dói um bocadinho, mesmo no dorso
adiposo dos Berardos pardos deste país.
Entretanto, o Urso pardo
espanhol já saiu de Portugal e voltou a Espanha. Parece que a Ursa parda não o
quis acompanhar e lhe confidenciou por rugido à distância: “Volta mas é para
casa, que aí corres o risco de sofrer de obesidade mórbida; Comes o que queres e
não tens de correr para fugir de ninguém”. O Urso ainda quis responder: “Mas ó
querida, só enfardei 50kg, ainda faltam
mais 950 para poder soltar com propriedade uma valente risada na cara das
parvas das abelhas que o produziram…”