domingo, 19 de maio de 2019

O Urso Parvo



O regresso do Urso Pardo a Portugal, deixou-me surpreendido. Numa primeira reacção à notícia não contive a expressão “mas o Urso está parvo? então não estava melhor na próspera vizinha Espanha?”. Depois de ver a declaração do Apicultor português, ao perceber que o Urso se lambuzou com o mel das suas abelhas, percebi que o Urso está longe de ser Parvo e que escolheu o território ideal para se instalar.  “Após 200 anos de extinção, ser atacado por um urso-pardo é um grande privilégio para mim.” Confessava o  simpático apicultor sem vestígios de  marcas das garras do animal tatuadas nas suas costas. Percebe-se que não assistiu atento ao gemido  de  um  DiCaprio estraçalhado pelo dócil mamífero no filme Renascido. Afinal “O que valem os 50 quilos de mel que o animal devorou das colmeias comparados com a importância do regresso de uma espécie extinta em Portugal desde 1843?”. Ó Luis vai dizer isso às tuas abelhas, depois de se terem esfalfado com as ventas encostadas ao rosmaninho para conseguirem produzir 5 gramas de mel por ano!? Anda uma abelhinha a dar à asinha, sugando o pólen de 5 milhões de flores para conseguir 1 kg de mel ,sem tempo para se queixar  da rinite alérgica, e chega este grandalhão peludo e zás, engole o trabalho de 2 anos de árduo esforço de 80 mil abelhas.  Solidário com o trabalho das abelhas, não deixo de sentir, tal como o apicultor Luís, uma certo carinho com o fofinho urso pardo, bicho que faz parte do nosso imaginário infantil, sempre simpático, sempre amistoso, agarrado alegre ao seu  pote de mel, produzido por outros.
O Urso Pardo Europeu saiu da Cantábria espanhola para dar uma perninha a Portugal,  por estar  farto de ser escorraçado pelos apicultores e pastores castelhanos,  um pouco chateados com as incursões deste aos potes de mel e às coxas felpudas das ovelhinhas. Alguém lhe rugiu ao ouvido que  assistiu a um  espectáculo fabuloso dado por um tal de Berardo, uma espécie de urso pardo madeirense, e que  aqui estaria seguro, mesmo depois de limpar todas as colmeias da região.  Esse tal espécime proveniente da Madeira, que passou pela África do sul e se fixou finalmente em Portugal, percebeu que poderia lambuzar-se a muitos 50kg de mel, que ninguém diria nada, até correria o risco de ouvir “o que são 1000 kg de mel comparados com a importância  do regresso de uma espécie extinta desde 1843?...?...ah, não está extinta?....quem?...o Sócrates?...o Salgado?...o Vara?...o Lima?... Desculpem por essa imprecisão, mas então, se não foi por uma questão de acontecimento histórico relevante, não percebo bem a permissividade dos “apicultores” que tomavam conta da colmeia CGD, perante o apetite voraz do Joe pardo.   Depois de ver o tom jocoso e alegre desse tal Berardo depois de meter as fuças no mel (e foi mel em barda), o urso pardo espanhol, percebe que o território lusitano é o terreno fértil para ele dar azo de forma alarve e impune à sua gula, sem correr o risco de levar uma paulada no dorso ou uma chumbada no traseiro. Mas atenção que se tiveres o título de comendador, corres o risco de ficar sem ele; pensa bem nesse contratempo agressivo…
Quanto às abelhinhas, essas, continuarão nos seus múltiplos voos diários, de rosmaninho em rosmaninho, esperando que  um dia o apicultor se chateie  mesmo a sério e trate de cumprir a sua função: escorraçar o parvo do pardo que está anafado de tanto se lambuzar com o mel produzido por outros. E se o apicultor , também ele,  sofrer de parvoíce parda, terão de ser as abelhas a agir; afinal têm um ferrão que dói um bocadinho, mesmo no dorso adiposo dos Berardos pardos deste país.
Entretanto, o Urso pardo espanhol já saiu de Portugal e voltou a Espanha. Parece que a Ursa parda não o quis acompanhar e lhe confidenciou por rugido à distância: “Volta mas é para casa, que aí corres o risco de sofrer de obesidade mórbida; Comes o que queres e não tens de correr para fugir de ninguém”. O Urso ainda quis responder: “Mas ó querida,  só enfardei 50kg, ainda faltam mais 950 para poder soltar com propriedade uma valente risada na cara das parvas das abelhas que o produziram…”