O anúncio
da Dona Florinda Ferreira a dizer que “Conta
com o Continente” deixou-me …contente. E isto porque a senhora estava ela
também radiante ao dizer que “no meu tempo não havia nada disto...e agora há!”.
E eu pensei: agora há o quê?....E a dona Florinda responde “Pá de porco com
osso a 1 euro 79 cêntimos”…?...Deveria ser um equívoco. A forma efusiva com que
a senhora dizia que contava com o continente, assemelhava-se ao contentamento
de um miúdo a aprender a contar e a dizer “Eu conto com a Galinha Pintainha!”.
Ó dona Florinda, diga-me lá quem é esse Continente que a deixa assim? “No Continente há arroz carolino a 0,69
cêntimos!”. Não percebeu o que eu disse. Numa altura em que todos desejamos ver
uma luz ao fundo do túnel, um rasgo de esperança no meio do flagelo social, as
palavras da senhora espelham essa ilusão de podermos contar com alguém
competente e sério para nos tirar do buraco, uma espécie de Zorro dos tempos modernos.
“E o quilo e meio de cebola embalada a 0,89 cêntimos?”. Deixe-se
disso e diga-nos quem é esse
enigmático “Continente”. Quando a dona Florinda diz confiante: “Eu conto com o
Continente” o meu imaginário infantil trata logo de transformar o personagem
continental num super-herói que nos vai salvar das garras dos malfeitores. Estou a ver a grande notícia: “Mister Continente veste o seu fato verde, entra a
voar dentro do parlamento com a capa abanando ao vento do ar condicionado e, num simples mas poderoso sopro, consegue
transformar 230 inertes seres em 20
vigorosos governantes, daqueles que conseguem…governar o país. Mas esperem, que na maioria dos dias o seu
sopro atingiria, na melhor das hipóteses, uns 30 deputados. Mas Mister
Continente pensa em tudo, só escolhe os dias festivos para actuar; poderia ser naquele dia
dos cravos e no outro da “Implantação” de qualquer coisa…deixa cá ver… acabada
em “blica”. Depois dessa acção de transformação cirúrgica, esvoaçava para os grandes
gabinetes de advogados e, num simples mas poderoso sopro, transformava-os em
seres de intelecto normal, para não entenderem as leis que criaram para salvar
os seus ricos e corruptos clientes, transformando assim impunidade em justiça.
E Mister Continente continuaria a esvoaçar a sua esplendorosa capa verde
convertendo tudo o que é silvado, em campos de margaridas em flor (não resisti
a uma analogia poética). “Mas no meu tempo não havia pescada fresca a 3 euros e
99 cêntimos!”. Agora chega Dona Florinda!!! Tenho de ripostar: No meu tempo não havia 20%
de desemprego; no meu tempo os governantes tinham de ter mais do que 23 anos; no meu
tempo conseguia dizer o nome dos jogadores do plantel do Sporting; no meu tempo
não havia a Golden & Sachs; no meu
tempo não pagávamos 1,4 por cada litro de gasóleo; no meu tempo não existiam contratos de PPP ou swap. A dona Florinda não baixa a
guarda e lança “No meu tempo não existia
amendoim com casca torrado a 1 euro e 49 cêntimos”. É lá, com essa
arrumou-me!...Temo que tenhamos de voltar à terra, deixar de imaginar um Mister
Continente para nos vir salvar, e assumir de uma vez por todas que nós só poderemos contar com o In…Continente Gaspar; aquele que continua sorver as nossas parcas economias e as deixa sair, para serem absorvidas pela fralda de uma qualquer instituição financeira
internacional. Abri agora um folheto do tal
Continente e não é que vi um pacote de 64 fraldas por apenas 4 euros e
99 cêntimos? No meu tempo não havia nada disto…
quinta-feira, 2 de maio de 2013
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Um comentário:
No meu tempo o Benfica não se ficava pelo quase...ganhava mesmo :-) (pelo menos de vez em quando)
Isso já nos chegava...ficava o povo muito mais feliz e visitava-mos o continente para comprar umas Sagres e festejar :)
Viva a bola
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