terça-feira, 4 de maio de 2010

Último Recurso




A imagem do “último recurso” é das mais apaziguadoras que existem em espíritos fustigados pela descrença . “Estas malditas cruzes na espinha, dão-me cabo da paciência! Já fui ao médico de família, ao fisioterapeuta, ao ortopedista, ao fisiatra, ao osteopata e nada! O que me vai valer, vai ser aquele rapaz que é mecânico de motociclos, que dá uns jeitos às costas e a pessoa vem de lá direita que nem um pêro!”. Eis como o “último recurso” transforma um problema sem aparente resolução, numa esperança de cura imediata. É disto que qualquer alma mais pessimista necessita; uma derradeira tábua de salvação; uma mão que o impede de cair no mortífero precipício; uma lufada de oxigénio no meio de um ar rarefeito. Eu também encontrei o meu “último recurso” espalmado entre a escova do pára-brisas e o vidro da frente do meu carro. O Professor Astrólogo Mamadu. Não o próprio, mas um bilhete com toda a sua competência na resolução dos mais intrincados problemas. Numa altura em que já me preparava para aceitar resignado o colapso de um país à beira da bancarrota gerido por incompetentes, precisava do meu “último recurso”. E lá vinha na folhita “para ajudar a encontrar uma solução imediata mesmo os casos mais difíceis ou graves com urgência” …é disto que eu preciso para contrariar o “nada” que me invade o discernimento. O que posso fazer para mandar estes tipos que nos governam apanhar caracóis num campo de minas em Maputo? Nada. O que posso fazer a um gatuno que se apropria dos meus bens? Nada. O que posso fazer quando o juiz liberta o gatuno que se apropria dos meus bens? Nada. O que posso fazer aos corruptos que dizem que não são corruptos e se apropriam dos meus bens? Nada. E é assim, de mãos e pés atados, que me sinto neste momento, o que até nem é mau, porque se não os tivesse atado, ainda ia parar à prisão por ter exteriorizado a minha impotência sob a forma de artes marciais. Mas o Professor Mamadu aparece como último recurso nesta nossa incapacidade de lidar com a ansiedade. Diz no folheto que “resolve problemas…emprego, negócios,…, justiça, …impotência sexual,, fenómenos estranhos…” Era mesmo aí que eu queria chegar, aos fenómenos estranhos. Continuo a achar um estranho fenómeno que, depois de se ter atingido o fabuloso número de 578 mil desempregados, de 45% dos jovens só conseguir arranjar emprego através de cunhas, da bandidagem andar todos os dias a fazer tropelias, se continue a insistir na tal comissão de inquérito para saber se a TVI foi comprada com ou sem conhecimento do senhor, sobre o qual eu não posso fazer nada para o meter num “charter” a caminho de Moçambique. Está claro que o senhor não sabe de nada, nem sabe sequer onde fica o Freeport. Ele afinal sabe de alguma coisa?...ah, sabe que as nossas dificuldades económicas tiveram em tempos ligação com a conjuntura internacional desfavorável e que a nossa anunciada bancarrota é da responsabilidade das empresas especulativas. É bom que o Professor Mamadu para além dos fenómenos estranhos também resolva esta impotência, não a sexual, mas a social, de não se conseguir fazer nada para que os tipos que tomam conta deste petroleiro desgovernado e com permanente fuga de crude, possam ficar a saber alguma coisa de navegação. Sinto que estou um pouco desanimado…o professor Mamadu contrapõe: “Não desanime! Não desista!”, é disto que preciso de ler; uma mensagem positiva; um apelo ao meu espírito combativo. Mas, e se…o professor Mamadu não conseguir resolver nada com as pedras e os astros? E se estes tipos continuarem alucinados com a construção do TGV? Será que só nos resta um mergulho na ponte 25 de Abril com os pés e mãos atados? Haverá mais algum recurso disponível depois do Professor Mamadu? Antigamente ainda havia a possibilidade de um golpe de estado recorrendo às forças armadas como contra-poder, quando o país estivesse à beira do abismo. O país não ficava melhor, mas ao menos a malta andava à bolachada e de certa forma aliviava esta sensação de impotência. Agora parece que as forças armadas têm meios para, quanto muito, fazer frente a desacatos provocados pela claque do Rio Ave na visita ao Olhanense. Estamos assim entregues à nossa sorte. Espera aí!... Parece que uma nova esperança surgiu! Algo capaz de despromover o Professor Mamadu para penúltimo recurso. A notícia “Portugal obrigado a importar esperma do estrangeiro” abre-nos uma nova janela de expectativa. Cria-nos a esperança de que daqui a 30 anos, o filho de um casal português estéril, produto do esperma de um governante Dinamarquês, tome conta dos destinos do nosso país. O problema será, se por um acaso existir uma troca de amostras, e o esperma tiver sido, na realidade, proveniente de um qualquer palácio governamental da Serra Leoa. Desse esperma não precisamos. Essa estirpe de cromossomas já temos de sobra, espalhada por diversos partidos políticos da nossa praça…

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