quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Torcer o Nariz


Sentei-me no sofá a ver os Jogos Olímpicos. O meu filho mais novo sentou-se ao meu lado e lançou a pergunta da ordem: “Oh pai, estás a torcer por quem?”. Eu respondi-lhe: “Pela portuguesa.”
“E achas que ela vai ganhar?”
“Parece-me bem que não, mas está a esforçar-se…”
Depois de um breve silêncio, volta à carga
“Mas porque é que ela vai em último?”
Tinha chegado a altura da explicação pedagógica, com ênfase na relativização dos resultados mediante o amadorismo dos nossos atletas; no seu esforço, na sua superação,..
“E as medalhas?...só os outros é que ganham medalhas?”, não desistia o cachopo
E eu pensei… “É lá!...querem ver que tenho aqui um repórter desportivo em potência?”. De facto o tipo reproduzia de forma fiel as palavras da maioria dos jornalistas que cobrem o evento…”então e as medalhas?”. Já acho alguma piada, à cara que os tipos fazem quando, suspendendo a respiração, perguntam “È agora?”….para depois expirar com um fatídico desconsolo “…ainda não foi desta”. Também me dá um certo gozo, quando têm de soletrar amargurados, a trigésima sexta posição que o atleta português ocupou no final. Eu sei que é um pouco cruel, mas os tipos têm de aprender a não ser gulosos. Para se exigir colocar os dentes no petisco, tem de se dar o seu contributo com alguns ingredientes. De entre os campeonatos de futebol da 1º, 2º 3º e distritais, as notícias do judo, do atletismo, da vela, do badminton ao longo do ano, continuam a aparecer, apenas quando um desses atletas semi-amadores consegue a improbabilidade de ganhar uma medalha contra um qualquer Golias profissional. Bom, mas voltemos ao que interessa. Cabia-me a tarefa de explicar ao miúdo que dos 40 em competição só os três melhores ganham medalhas, e que muitos daqueles 37 que não sobem ao pódio, são também os melhores dos seus países.
“Queres dizer que esta atleta que ficou em último é a melhor que temos em Portugal?”
“Sim.”
“Mas porquê?”
Esta mania do “porquê” deixa-me irritado; a coisa poderia ter ficado muito bem com o “sim” e não se falava mais nisso. Agora com a curiosidade exagerada do petiz, ou me pirava dali com uma desculpa estapafúrdia ou teria de explicar ao miúdo que somos um país pequenino, que tem outras prioridades para investir e, outras balelas, que não lhe interessam para nada.
Sentei-me no sofá a ver os Jogos Olímpicos. O meu filho sentou-se ao meu lado:
“Oh pai, há portugueses em prova?”
“Não.”
Como já não tinha o entrave patriótico a atrapalhar, perguntou esperançoso:
“Estás a torcer por quem?”
“Por aquele tipo da Nova Zelândia”
“Então eu também vou torcer por ele.”
Deu-se a partida para a corrida.
“Oh, pai não é ele que está a ficar para trás?”
“Penso que sim.”…
…“Achas que posso torcer antes por aquele americano que vai à frente?”

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