domingo, 21 de setembro de 2008

O estreito de Magalhães


“O Magalhães chegou às escolas” Assim de repente, quando ouvi a notícia, fiquei admirado e um pouco emocionado, afinal não era todos os dias que assistiríamos ao renascer do nosso mais corajoso navegador português. Depois fiquei confuso quando completaram com um “agora até os mais pequenos só têm de clicar nas teclas…”. Mas que raio tem o “clicar nas teclas” a ver com Magalhães, conhecido pela arte no manuseamento do leme das suas Naus? Será que o inventor do computador para crianças se lembrou mesmo de Fernão de Magalhães, ou apenas o teria feito em honra de um amigo, um tal de António Magalhães, dono da mercearia, e grande percursor da troca do lápis atrás da orelha, pelo clicar na máquina registadora? Eu inclino-me mais para esta tese, até porque, se o herói Magalhães desconfiasse que deram o seu nome a um objecto de plástico com botões, fabricado nos Estados Unidos, iria ficar um pouco aborrecido. Mas o computador cria nas crianças desde muito cedo a habilidade de navegar e descobrir um mundo sem limites. Pronto, está explicado. O computador representa para a criança de 6 anos, o fast-food da navegação. O lema será: “Navega com facilidade, trabalha sem dificuldade”. É isso que se pretende, facilitar a vida do petiz. A máquina evita que tenha muito trabalho a escrever ou a procurar informação; basta navegar com o cursor, que a coisa fluirá sem problemas. Parece pois, que a navegação é o denominador comum entre o Magalhães e Magalhães. A grande diferença está na trabalheira que o genuíno (o Fernão) teve para descobrir o raio do Estreito que fazia a ligação entre dois continentes. Agora é ver um monte de Magalhãezinhos a navegarem até à Patagónia chilena, apenas com um clique , troçando das longas semanas que o outro Magalhães passou, a tentar sair daquele labirinto gelado e descobrir uma passagem que ninguém sonhava existir. O feito do nosso verdadeiro navegador, nada tem de instantâneo, revela uma perseverança e astúcia, que não se coadunam com um simples clicar no botão do lado esquerdo do rato. E ali está ele, Fernão Magalhães, em frente do tal Oceano, que haveria de chamar de Pacífico, pronto para se lançar à descoberta…Pssst,…Ó Magalhães!...Magalhãaaaees!...sou eu, o Xavier do 2º ano turma B! …Olha Magalhães, se queres descobrir as Molucas, basta colocares aqui em cima na janela do Google, o nome “Molucas” e elas aparecem num instantinho, com mapas e tudo pá! É que isso de te mandares à maluca dá uma trabalheira p’ra chegares à Moluca! Eh, eh, gostastes do trocadilho intelectual que acabei de fazer pá? Mas como Magalhães não sabia o que era o Google, lá foi ele, atravessar o Pacífico durante três meses,… com comida para duas semanas. O Xavier do 2º ano, que sabe procurar no motor de busca, nem sonha o que será ter de comer o couro das amarras ou os ratos do convés para sobreviver ao desafio da descoberta de um novo oceano.; Para a Beatriz do 4º ano é simples navegar, sem ferir as mãos a caçar a vela ou sentir os lábios gretados pela desidratação; para o Jaime do 3º ano é óbvio identificar a Micronésia sem lhe conhecer o cheiro. Para Fernão de Magalhães nada era fácil ou óbvio. Para se ser empreendedor tinha de se suar estopinhas. Magalhães descobriu que a terra era redonda porque levantou a bunda do sofá e foi à luta. Pssst, pssst,….ó Magalhães, sou eu outra vez, o Xavier do 2º ano. Essa coisa da luta é careta; agora é mais wrestling e moches pá! E para mais, eu descobri que a terra era redonda, sem ter de deixar a minha cadeirinha ergonómica a amparar-me o nadegueiro. Bastou ir ao globo tridimensional do Google Earth, e não custou nadinha.
Continuo sem conseguir explicar tão absurda colagem do nome do herói Magalhães a um negócio de bytes-milhões, encoberto por hipotéticos benefícios educacionais. Não quero sequer imaginar que tal associação se possa dever à forma como o navegador morreu na Indonésia, às mãos do cacique Lapu-Lapu. Acredita-se que Fernão de Magalhães cometeu um suicídio; foi ao encontro de uma morte voluntária. O meu temor é que o computador Magalhães, represente também ele o Harakiri do próprio ensino; a facada final na memória que temos de um Homem com as proeminências no sítio certo, dizendo à sua tripulação que aquela era uma aventura pela qual valeria a pena arriscar a vida. Pssst,….pssst, ouve lá ó cronista de meia tijela, aqui o Xavier do 2º ano, não percebeu o que é que tem o Harakiri a ver com o tal do Magalhães??? Diz aqui na wikkipédia que isso era uma coisa dos Samurais…?...onde é que o Magalhães é p’rá qui chamado pá?

3 comentários:

vitorpt disse...

Com que então disseram-te que o Magalhães se referia ao Fernão de Magalhães, mas estás enganado, pá, eles lembraram-se foi do Pinto de Magalhães, o tal do Banco, sogro do Belmiro de Azevedo, o tal da Sonae... eles percebem é de números, pá!
Com que então história...
E ainda te digo mais, tu que não eras nada desta coisa dos computadores já estás embriagado, perdão, enebriado com o nosso gabinete de trabalho que já tem mais computadores que professores e tu, "velho do Restelo" ainda vais ter de engolir tudo o que disseste contra os computadores, "magalhães" incluído.

Vitor Santos disse...

Amigo Miguel,
É sempre um prazer (quer dizer, gosto, prazer é outra coisa) ler as tuas crónicas, principalmente quando se está a uns "quantos" Km de casa.
Um abraço.

Anônimo disse...

Pois, e ainda por cima, dizem que este tal de Magalhães é um embuste, que de português nada ou quase nada tem...não é que os portugueses não fossem capazes de criar um novo computador, mas "eles" têm a mania de pôr a carroça à frente dos bois, o que em termos de condução pode dar mau resultado,... digo eu..