quarta-feira, 15 de julho de 2009

Isto e Aquilo

Imagem retirada da net


“Não é isto que eu quero!” Podem os leitores ficar descansados que eu quero mesmo escrever esta crónica. Não estou nada contrariado, ou… talvez um bocadito,… mas é que acabo de ouvir tão rude afirmação, ou antes, tão rude negação, que não posso ficar indiferentemente bem disposto. Qualquer um que ouça alguém gritar “não é isto que quero!…” fica logo de pé atrás. E fica assim por causa do “Isto” entre o “não” e o “quero”. Pela nossa mente passam logo rápidos preenchimentos para o “isto”, todos eles pouco apelativos. Passemos para o plano prático. Se uma namorada diz para o seu companheiro “Não é isto que eu quero!”, o rapaz completará o enigma de acordo com o seu grau de sensibilidade. Poderá substituir o “isto” por “esta relação” no caso de ser um romântico . Já se for do tipo abrutalhado, o “isto” representa claramente o “sexo” que gostaria de experimentar. De qualquer das formas, a cruel afirmação expelida da boca da rapariga em jeito de desmancha prazeres deixá-lo-á pelas ruas da amargura. “Não é isto que eu quero!” pretende ser uma machadada nas aspirações de qualquer ouvinte; soa mal, soa a tampa, soa a música de Tchaikovsky tocada por um aprendiz de violino. Arranha o ouvido; dá pontapés nas canelas. Neste momento estamos apenas a colocar-nos na posição desconfortável do ouvinte que gostaria de ter ouvido “É isto que eu quero!”. No entanto, para fazer justiça, teremos de encarnar o papel de quem produziu a afirmação de forma tão convicta. Esta reacção surgirá quando o “isto” é mesmo desagradável a puxar para o azedo. Quando um tipo vai à frutaria e a senhora nos quer vender umas maçãs farinhentas “Não é isto que eu quero!”. Quando nos tocam à porta para contribuirmos para a 35ª liga dos toxicodependentes em recuperação “Não é isto que eu quero!”. Quando a senhora diz para o cabeleireiro que lhe mostra como modelo o penteado de Manuela Ferreira Leite “Não é isto que eu quero!”. Quando um reformado olha para o preço exorbitante do medicamento que faz bem às suas artroses “Não é isto que eu quero!”. Basicamente para não se querer uma determinada coisa, será porque ela nos desagrada efectivamente… Mas com a conversa já me ia esquecendo de dizer da boca de quem ouvi tão eloquente afirmação. Estava aqui em frente à televisão a tentar curar uma crise de rinite alérgica que dá um desconforto do caneco, quando uma senhora, que foi agora eleita para deputada do parlamento europeu, e que quer ser candidata a autarca local(?), lançou a afirmação que me martelava na cabeça por causa da tosse e da ranheta que me invadia as fossas nasais “Não é isto que eu quero!”. Alto lá! Mas o que é que é isto? Ou antes, o que é “o” isto? O Eco das minhas preces para a erradicação da rinite? Foi mesmo o que a eurodeputada candidata a autarca disse. A entrevistadora perguntou-lhe se ela queria brócolos com feijão frade? Se queria dar beijos rechonchudos na bochecha de Paulo Rangel? Se desejaria experimentar ficar fechada numa jaula com um urso siberiano e o Manuel Pinho? Nada disso. A entrevistadora apenas perguntou se ela iria para o Porto caso fosse eleita e as palavras saíram de forma fluida em que o “isto” significava a função de “eurodeputada”. Pensem agora comigo. A senhora andou a abanar bandeirinha para a elegerem como deputada do parlamento europeu . Foi eleita. Os portugueses que votaram nela ficaram contentes. Mas logo no primeiro dia de apresentação no parlamento europeu diz “Não é isto que eu quero!”(?). Pela sua repulsa, pensei logo que, qual criança no primeiro dia de aulas, a tinham praxado de forma ignóbil e lhe colaram pastilhas elásticas no cabelo, colocaram pioneses na sua cadeira ou a presentearam com vigorosos calduços à entrada do parlamento, mas parece que não. Parece que o que a senhora queria mesmo era… “Aquilo”. Aquilo? Sim, ser presidente da Câmara do Porto. Decida-se lá de uma vez por todas! Então e o mandato? Não é “isto” que a senhora quer. O que a senhora quer mesmo é voltar abanar a bandeirinha para ter “aquilo” no Porto, mas não perder já “isto” em Bruxelas. É que por muito mau que “isto” seja, as remunerações e os subsidiozitos de deslocação e de estadia, sempre poderão fazer esquecer “aquilo” do Rui Rio, do vinho do porto e do frio de rachar de Bruxelas. Bom bom seria ficar com “Isto” e “Aquilo”.
“Não é isto que eu quero!” . O quê? A ranheta entupindo-te as fossas nasais? Não. O “isto” quer mesmo dizer “esta corja que me entope o optimismo”. E como “aquilo” seria tão melhor sem “isto”. Ou seria “isto” sem “aquilo”? …Acho que o ideal seria mesmo ficarmos sem “Isto” nem “Aquilo” e apenas com o “Aqueloutro” . Parece que para o “Aqueloutro” não é preciso abanar bandeirinhas…

2 comentários:

Anônimo disse...

e tu, querias isto?
eu não sou muito exigente, mas antes queria a Sanfona de Alpiarça.

Por isto e aquilo, cordialmente.
V. Lucio

José Ricardo Costa disse...

Qual Sanfona de Alpiarça, qual carapuça. Eu cá ia pela Maria Carrilho com menos 30 anos em cima.

JR