terça-feira, 10 de agosto de 2010

Play Station 2


Centena e meia de reclusos da cadeia de Sintra fizeram greve ao almoço como forma de protesto contra a fraca qualidade da comida, mas sobretudo por não poderem utilizar a playstation 2 (?). Claro que a greve apenas durou uma refeiçãozita porque a larica é muita e a paparoca por muito má que seja, não pode ser desperdiçada longe de corpinhos tão desgastados de tanto trabalho que realizam. Ainda houve um deles que gritou “Vamos fazer como aquele gajo cubano, o Guilhermo Fariñas, e só paramos a greve de fome, quando nos meterem no prato uns bifes de lombo!” . Apanhou logo uma “belinha” no toutiço acompanhada da reprimenda “Cala-te ó palerma que a greve de fome custa comó caneco; fazemos um rápido alarido só para nos fazerem a vontade! ”. Saiu o tal comunicado da indignação por não se poderem divertir aos comandos da Playstation, mas que ficasse claro aquilo não era uma greve de fome, …era só um protesto…zito. A reivindicação é justa. Num país onde apenas muito poucos bandidos conseguem chegar às cadeias, o prémio para tal selecção deveria incluir no mínimo uma jogatana com o FIFA 2009. Senão com que é que a malta passa o tempo? A ver televisão? A traficar heroína? A molestar outros presos? A fazer musculação para arrear nos guardas? Mas esta questão não é inocente; é necessário ler nas entrelinhas. As prisões em Portugal não passam de enormes playstations, que traduzidas para a língua de Camões significam “Estações de Reinação”. Quando gatunos condenados têm margem para exigir brincadeiras virtuais como passatempo, porque não ocupam o tempo com trabalho comunitário, ou estão a brincar com toda a malta que roubaram e assassinaram, ou então já perceberam que a punição que sofreram, é assim uma espécie de chicotada dada pelo palhaço “Choné” com folhas de papel celofane colorido. Aliás, o facto de pedirem a playstation 2 para as cadeias é sintomático. A Play Station 1 , já tinha sido solicitada para munir os tribunais, pois é aí que começa toda a brincadeira. Os duelos entre argumentos esgrimidos pelo Ministério Público e recursos disparados por advogados de defesa da bandidagem como quem lava os dentes, passando pelas liberdades condicionais oferecidas a gatunos por divertidos juízes, representa o que de melhor poderá oferecer um qualquer salão de jogos. A notícia de que morre em Portugal uma mulher por semana vítima de violência doméstica, perpetuada por indivíduos anteriormente identificados como agressores, é um exemplo deste “playground” judicial. A jogatana começa com a permissa “Vamos lá libertar este tipo e apostar em quanto tempo consegue voltar a deitar as mãos à mulher”. Na maioria dos casos ganha o jogo quem vaticinou que a vítima seria esfaqueada ao fim de 5 dias. Mas a riqueza da playstation é que se poderão introduzir na consola, vários tipos de jogos com diferentes variáveis. Assim poder-se-á apostar só no tipo de morte (quem apostar à “paulada” tem um bónus extra na pontuação) ou no tipo de personagens (Bandidos do carjacking; assaltantes de ourivesarias; agressores de polícias). Na berra está o jogo “Romenos em fuga 2010”. A acção consiste em libertar 2 romenos que espancaram um senhor velhinho para lhe roubarem o carro, e depois segui-los para ver em quanto tempo conseguem fugir para o lado de lá da fronteira. Este jogo tem uma nova aplicação que representa o percurso inverso dos gatunos, ou seja, depois terem fugido do país, serão acompanhados uns dias depois, no seu retorno a Portugal, para voltar a gamar outro carro e mandar mais umas traulitadas na cabeça de outra vítima.
Parece que já existe a PlayStation 3 cuja virtude é a de poder ser jogada com comandos sem fios, ou seja, o jogador pode estar a jogar sem ficar emaranhado nos fios e fingir que nem está ligado ao ecrã. Esse tipo de consola tem sido utilizada nas mais altas esferas políticas e empresariais e nem mesmo algumas “escutas”, conseguem emaranhar esses hábeis jogadores.
Já me esquecia dos reclusos da cadeia de Sintra. Adivinham o que lhes terá acontecido? Qualquer director com bom senso e sentido de gestão financeira, estimulava mais protestos de greve às refeições como forma de poupar uns cobres valentes na alimentação dos latagões. Na verdade, os presos conseguiram ser transferidos para outros estabelecimentos prisionais, provavelmente munidos com salas de playstation onde se podem divertir à bruta. A esta hora estará o dissidente cubano Fariñas a contorcer-se de inveja, porque em Portugal, não teria tido necessidade de passar tanta fomeca, para conseguir a libertação dos companheiros.
Neste momento, escondo o recorte de jornal com a notícia dos presos da “PlayStation”, com receio que os meus filhos vejam. Há já algum tempo que me andam a pedir o raio da consola e correria o risco de algum deles me perguntar “Ó pai, será preciso eu ir para a cadeia para conseguir jogar o FIFA 2009?”. Para a cadeia talvez não, mas com o apetite que têm e ao preço a que estão os víveres, bem poderiam avançar com um protesto em forma de jejum…

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