segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A trela da nossa esperança

Imagem retirada da net

Tinha planeado não ligar nenhuma à cimeira da NATO. Achava totalmente desproporcionado, aquele sugadouro de meios numa altura em que toda a malta se debate com falta de…meios. No entanto, num daqueles tempos mortos, dei por mim a assistir à pomposa chegada das “avionetas” dos chefes de estado. E, enquanto uns iam sendo recebidos à chuva por aquele ministro que disse que o TGV era para continuar, outros iam apertando a mão ao Primeiro Ministro e espetando duas beijocas a uma senhora com um vestido de lantejoulas e de farto decote. “E o Obama? Nós queremos é ver o Obama!”. Finalmente lá chegou o Obama dentro do seu Cadillac anti-míssil e José Sócrates correu na sua direcção, qual Branca de Neve ao encontro do seu príncipe encantado. Achei aquilo esquisito. Momentos antes o tipo tinha recebido o Presidente da Albânia com um ténue aperto de mão, como quem recebe um vendedor de enciclopédias, despachando-o célere para os peitos da senhora de lantejoulas. Com o Obama foi diferente; lançou-se nos seus braços sem qualquer tipo de embaraço. “Mas afinal é o Obama…o todo poderoso…Obama o tipo do Yes, We Can”. A rapariga das lantejoulas bem queria deitar a mão ao homem, mas não foi fácil libertá-lo das mãos do outro. Não ouvi o que disseram um ao outro, mas desconfio que entre sorrisos, Obama lançou uma reprimenda ao tipo, por este não ter providenciado um clima mais ameno para a recepção. “Mas ó Senhor presidente, não vê que até lhe fechámos o trânsito na 2ª circular, selámos os caixotes do lixo todos, convocámos toda a polícia de Lisboa e arredores para tirarmos os manifestantes do caminho…”. E os assaltos no Laranjeiro? Que se lixem. Até aumentámos o número de médicos nos hospitais. Para a população? Não, para os chefes de estado, comitivas e manifestantes. Tudo isso valeria a pena para se ouvir o que mais interessava ouvir na cimeira: “O que Obama pensa sobre o nosso país”. Alguém o ouviu dizer alguma coisa sobre nós? Não??? Há que dar tempo ao tempo. Deixem-no instalar, que mais tarde ou mais cedo o homem nos vai tecer largos elogios. Tivemos de esperar algum tempo, para que, durante uma visita ao palácio de Belém, Obama falasse finalmente de Portugal. É agora! Vamos, diz lá alguma coisita agradável, que a malta precisa de elevar a nossa auto-estima. “A minha ligação a Portugal é feita através…” Do quê?... Dos navegadores portugueses? De uma tia avó de Trás-os-Montes? Do Vinho do porto? Do Escritor Saramago? Do investigador Damásio? “…a minha ligação a Portugal é feita através do Bo….”…do… quem?. Alguém me sabe dizer quem é o Bo? Será que queria dizer Bo…lo Rei e engasgou-se com a fava? Ou quereria dizer que Portugal é um país Bo…nito? “ Bo é o meu cão de água de raça portuguesa, o mais recente membro da família.” Acrescentou. Mais nada?...Nem uma palavrinha sobre o nossa deprimente classe política, …o nosso fabuloso bacalhau,….o nosso pujante Sporting… a nossa crise financeira…? Falou-nos do seu cão português e, o que o nosso presidente Cavaco fez?....Abanou radiante o seu sorriso habitual. Eu não sei se fiquei contente ou deprimido. Então o Obama quando pensa em nós, vem-lhe à cabeça o focinho do seu cão gadelhudo. “Epá mas ele estima muito o cão! É sinal que gosta de nós…”. Não sei bem se me agrada. Qualquer dono que se preze tanto faz festinhas no pêlo, como bate com o jornal no rabo depois de um xixi no canto da cómoda. Mas o cão anda sempre pela Casa Branca, é sinal de que tem acesso a uma área onde poucos entram…Também por lá andou a Mónica Lewinski e quase que ia apanhando com o jornal no rabiosque. A imagem do cãozinho a saltar para apanhar a bola de ténis e vir trazer ao dono é tão ternurenta; e às vezes até dá a patinha. É com essa ternura que Obama fala de Portugal ; a ternura de uma bola de ténis lançada ao lago acompanhada por um “busca!”. O abraço magnético de Sócrates a Obama representa essa relação de amizade com o seu melhor amigo. Até lhe ofereceu uma coleira e trela feitas de cortiça portuguesa com uns brilhantes incrustados. A minha esperança em Obama, é que ele use a trela no pescoço certo e na sua plenitude. É que uma trela tanto tem uma função de não deixar fugir, como de puxar o animal e levá-lo para a rua à força. Se o animal não obedecer? Sempre se pode usar o jornal no rabiosque…

Um comentário:

Fati disse...

toca a exportar bo's!