quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Limpa Chaminés


Comecei o ano a pensar no Limpa Chaminés. Poderá parecer estranho, até produzir suspeitas de pessimismo baseado na ideia figurativa de um início de ano chamuscado, mas a minha admiração por essa personalidade é genuína e sem qualquer tipo de negridão. Não se pense que eu apenas enalteço o seu trabalho de evacuar toda a porcaria acumulada no interior de uma conspurcada chaminé. O que eu aprecio no Limpa chaminés, ou antes, naquele Limpa chaminés que colocou o autocolante no semáforo com o número do seu telemóvel, é o espírito empreendedor revelado. Quando pensamos no Limpa chaminés vem-nos logo a imagem do pobre coitado, com toda a cara enfarruscada, com as barbas cobertas de fuligem (todo o limpa chaminés do nosso imaginário tem barbas para acumular fuligem), uma escova negra na mão e uma postura encurvada de pessoa que pouco come e muito sofre. Mas este tipo do autocolante, não. Este Limpa Chaminés anuncia orgulhoso que “Vai a todo o país sem sujar a casa”. Ora aí está o que a malta precisa: um tipo que limpa sem sujar. Parece que antigamente, eles limpavam as chaminés emporcalhando o resto da casa. Eram pagos por alguém que os odiava por terem sido responsáveis por aquela cinza ficar incrustada nos cortinados, que demoraria muita esfregadela a sair. Pior do que isto só o sentimento nutrido pelo pintor que deixou toda a tijoleira com salpicos brancos para passarmos dois meses a lixar. Agora o Limpa Chaminés não só Limpa, como Não Suja e vai a todo o país. Mas vai mesmo a todo o país, porque eu já vi o mesmo autocolante colado em semáforos no Estoril, em Sever do Vouga e em Liteiros. Este indivíduo materializa tudo o que o país necessita neste momento; de gente com atitude pró-activa, que vai à luta, que não fica à espera, que cola autocolantes nos semáforos e nos sinais de trânsito. Tenho de confessar que já estava a perder a esperança, depois de ter constatado que até os tipos do CitiBank que na entrada dos centros comerciais, em outros tempos se atiravam a nós como carraças em busca da orelha suculenta, estão agora cabisbaixos encostados aos balcões esperando que uma orelha com espírito de auto-sacrifício se aproxime voluntariamente. Ainda bem que chegou o Limpa Chaminés, que poderia muito bem ser um Fura Chaminés, atendendo ao seu espírito guerreiro de conquista de clientes utilizadores de estradas com semáforos. E a ideia do asseio é uma boa ideia, até para combater o estereótipo da linguagem adolescente do significado de limpar a chaminé; a imagem porcalhona do indicador a tirar macacos do nariz cai por terra quando o tipo diz “sem sujar a casa”. Só terá contra ele o facto de deixar a casa limpa mas os semáforos sujos. Mas do mal o menos. Tenho de confessar que de princípio até desconfiei do homem. Um Limpa Chaminés que não levanta poeira, é quase como um mecânico não que deixa cair óleo no chão. Pensei que o tipo se tinha inspirado na artimanha dos nossos políticos do “faça a porcaria que quiser, sem sujar o seu cadastro” para elaborar o seu marketing em forma de autocolante. No entanto, parece que a coisa funciona mesmo, através de um método de limpeza das chaminés por aspiração, ficando toda a fuligem escondida dentro do aparelho. É um método limpo sim senhor, mas tenho de denunciar que a ideia não é original, atendendo a anteriores versões de “aspiração de escutas” ou “aspiração de provas” proporcionadas por outros personagens. O método de limpeza é semelhante, mas a fuligem é outra.
Deixando de lado as más memórias, deixo aqui os votos para que neste ano que se inicia, todos tenhamos um pouco da capacidade empreendedora do “Limpa Chaminés que vai a todo o lado sem sujar a casa”. Será sinal que, mesmo com toda a porcaria produzida e aspirada por outros, apesar das dificuldades inerentes às condições actuais, ainda teremos iniciativa e força para colar autocolantes por esses semáforos fora.

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