
Comecei o ano a pensar no Limpa Chaminés. Poderá parecer estranho, até produzir suspeitas de pessimismo baseado na ideia figurativa de um início de ano chamuscado, mas a minha admiração por essa personalidade é genuína e sem qualquer tipo de negridão. Não se pense que eu apenas enalteço o seu trabalho de evacuar toda a porcaria acumulada no interior de uma conspurcada chaminé. O que eu aprecio no Limpa chaminés, ou antes, naquele Limpa chaminés que colocou o autocolante no semáforo com o número do seu telemóvel, é o espírito empreendedor revelado. Quando pensamos no Limpa chaminés vem-nos logo a imagem do pobre coitado, com toda a cara enfarruscada, com as barbas cobertas de fuligem (todo o limpa chaminés do nosso imaginário tem barbas para acumular fuligem), uma escova negra na mão e uma postura encurvada de pessoa que pouco come e muito sofre. Mas este tipo do autocolante, não. Este Limpa Chaminés anuncia orgulhoso que “Vai a todo o país sem sujar a casa”. Ora aí está o que a malta precisa: um tipo que limpa sem sujar. Parece que antigamente, eles limpavam as chaminés emporcalhando o resto da casa. Eram pagos por alguém que os odiava por terem sido responsáveis por aquela cinza ficar incrustada nos cortinados, que demoraria muita esfregadela a sair. Pior do que isto só o sentimento nutrido pelo pintor que deixou toda a tijoleira com salpicos brancos para passarmos dois meses a lixar. Agora o Limpa Chaminés não só Limpa, como Não Suja e vai a todo o país. Mas vai mesmo a todo o país, porque eu já vi o mesmo autocolante colado em semáforos no Estoril, em Sever do Vouga e em Liteiros. Este indivíduo materializa tudo o que o país necessita neste momento; de gente com atitude pró-activa, que vai à luta, que não fica à espera, que cola autocolantes nos semáforos e nos sinais de trânsito. Tenho de confessar que já estava a perder a esperança, depois de ter constatado que até os tipos do CitiBank que na entrada dos centros comerciais, em outros tempos se atiravam a nós como carraças em busca da orelha suculenta, estão agora cabisbaixos encostados aos balcões esperando que uma orelha com espírito de auto-sacrifício se aproxime voluntariamente. Ainda bem que chegou o Limpa Chaminés, que poderia muito bem ser um Fura Chaminés, atendendo ao seu espírito guerreiro de conquista de clientes utilizadores de estradas com semáforos. E a ideia do asseio é uma boa ideia, até para combater o estereótipo da linguagem adolescente do significado de limpar a chaminé; a imagem porcalhona do indicador a tirar macacos do nariz cai por terra quando o tipo diz “sem sujar a casa”. Só terá contra ele o facto de deixar a casa limpa mas os semáforos sujos. Mas do mal o menos. Tenho de confessar que de princípio até desconfiei do homem. Um Limpa Chaminés que não levanta poeira, é quase como um mecânico não que deixa cair óleo no chão. Pensei que o tipo se tinha inspirado na artimanha dos nossos políticos do “faça a porcaria que quiser, sem sujar o seu cadastro” para elaborar o seu marketing em forma de autocolante. No entanto, parece que a coisa funciona mesmo, através de um método de limpeza das chaminés por aspiração, ficando toda a fuligem escondida dentro do aparelho. É um método limpo sim senhor, mas tenho de denunciar que a ideia não é original, atendendo a anteriores versões de “aspiração de escutas” ou “aspiração de provas” proporcionadas por outros personagens. O método de limpeza é semelhante, mas a fuligem é outra.
Deixando de lado as más memórias, deixo aqui os votos para que neste ano que se inicia, todos tenhamos um pouco da capacidade empreendedora do “Limpa Chaminés que vai a todo o lado sem sujar a casa”. Será sinal que, mesmo com toda a porcaria produzida e aspirada por outros, apesar das dificuldades inerentes às condições actuais, ainda teremos iniciativa e força para colar autocolantes por esses semáforos fora.
Deixando de lado as más memórias, deixo aqui os votos para que neste ano que se inicia, todos tenhamos um pouco da capacidade empreendedora do “Limpa Chaminés que vai a todo o lado sem sujar a casa”. Será sinal que, mesmo com toda a porcaria produzida e aspirada por outros, apesar das dificuldades inerentes às condições actuais, ainda teremos iniciativa e força para colar autocolantes por esses semáforos fora.
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