terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Voo da Cegonha


Até aqui não me tinha deixado incomodar muito pelo Casamento “Gay”. Mas li, na primeira página do jornal: “Saiba explicar o casamento “Gay” aos seus filhos”…!!! Ando há algum tempo a tentar sair ileso da pergunta “como nascem os bebés” . Já tinha vencido o mito da cegonha; consegui ultrapassar a barreira da sementinha deixada pelo pai na barriga da mãe e já estava em estágio para encher o peito de ar e abrir sem inibições o Manual da sexualidade infantil com a história da pilinha e do pi-pi. Agora querem que eu explique aos miúdos como se casam os “Gays”? Parece que até já lançaram livros infantis com clarificações pedagógicas sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a consequente adopção . No “Livro do Pedro” onde o tema é abordado com “naturalidade e frescura”, “… uma menina tenta perceber como coube na barriga das mamãs Carlota e Ana”. Fiquei a pensar na “naturalidade” disto, e descobri que isto não é natural. O que é natural é um homem ter filhos com uma mulher; um gorila ter filhos com uma gorila; um leão ter filhos com uma leoa; um urso polar ter filhos com uma ursa polar… (será aqui que entra a frescura?). Não é natural a Maria tratar a mãe por Joaquim António. Se a Maria perguntar como saiu da barriga do Joaquim António, terá de se voltar à história da cegonha. Antes de me começarem a chamar homofóbico, eu esclareço já que não nutro qualquer tipo de fobia por homossexuais. Bom, se o Joaquim António me quisesse fazer umas festinhas no couro cabeludo, aí eu já não iria achar muita graça. Na verdade, apenas me queria ficar pela explicação da pilinha e do pipi no sistema reprodutivo. Já não tenho arcaboiço para abranger o sistema endócrino, e tentar explicar aos miúdos que existem pessoas cujas hormonas as levam a sentir-se seduzidas por pessoas do mesmo sexo. E esta minha dificuldade em explicar, passa pela minha dificuldade em entender como um tipo consegue trocar uma extraordinária mulher por um robusto jogador de Râguebi . O raio das ferormonas tinham de pregar esta partida a um macho? Acho esquisito, mas respeito. Se vir dois barbudos aos beijos na boca, acho esquisito, mas respeito; acho esquisito um tipo satisfazer-se com chibatadas no lombo, mas respeito; acho esquisito um indivíduo tatuar todo o corpo, mas respeito; acho esquisito alguém gostar de pendurar alteres nos testículos, …desculpem, mas isto é esquisito de mais. Mas mais esquisito ainda, é um tipo ter de explicar aos filhos aquela imagem que aparecerá no livro de Estudo do Meio, de dois barbudos abraçados a cantar os parabéns ao seu filho. Se existe preconceito implícito nesta minha imagem? Existe. E o preconceito irá continuar a existir enquanto eu achar esquisito. Mas atenção que não vou sair por aí a chamar nomes pejorativos a indivíduos com outras opções sexuais que não a minha. Aliás, se analisarmos bem, o termo “panasca” é dos que pior soa no calão da língua portuguesa, dos que mais ofende os tímpanos, e sinceramente penso que não havia necessidade. Como não haveria necessidade deste histerismo do orgulho Gay, que quer a toda a força tornar naturalmente radioso o casamento entre duas pessoas do mesmo género. Eu sei que existirão muitos homossexuais de bom senso que não embarcam nesta onda de exibicionismo doentio. Homossexuais que não necessitam dos desfiles nas avenidas para viver a sua sexualidade de forma plena. Que não concordam com esta tentativa de subversão do conceito ancestral de família. Que vivem em união de facto e, para legarem bens, utilizam o testamento em vida ao invés de invocarem a necessidade de meter uma aliança no dedo.
O significado das palavras tem uma importância grande nesta fase educativa e temo já não poder mandar a minha filha ao dicionário ler significados corriqueiros como “casal” ou “casamento”. A miúda ficaria mais baralhada do que eu, quando lesse “conjunto de macho e fêmea” ou “contrato..entre duas pessoas de sexo diferente” depois de ter estudado que é natural o casal ser composto por dois barbudos. Ah, mas parece que se vai alterar a terminologia do dicionário e tirar de lá “macho e fêmea” e “pessoas de sexo diferente” , para não baralhar os cachopos e os pais dos cachopos. Com alguma persistência e algum jeitinho, ainda conseguem atribuir o significado de “casal” no dicionário ao “conjunto de Macho e Macho”. Não é mal pensado. Também eu acho inconcebível que não consiga voar. Vou já tratar de mudar no dicionário o significado da palavra “voar” substituindo o “suster-se no ar com auxílio de asas ou membros análogos” e colocar “suster-se muito rapidamente no ar”. E pronto! Já consigo voar. Ainda hoje consegui voar para cima duma cadeira cá em casa.
Pelo sim pelo não, o melhor é eu permanecer sossegadinho na história da sementinha na barriga da mãe e esperar que a curiosidade infantil não pergunte: “mas como é que a sementinha entra dentro da barriga?”. Com sorte, até pode ser que no dicionário já apareça a cegonha com a fralda no bico…

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