quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os minutos que contam mais


Impingiram-nos a vida em passo de corrida. Dizem-nos que temos de ultrapassar o passadiço com paragens contadas ao segundo, para continuarmos a correr rumo ao próximo apeadeiro; tudo a correr, com pouco tempo para respirar. Acordamos cedo para que o passadiço comece mais cedo a ser percorrido. Acordamos os filhos à pressa, para comerem à pressa, para chegarem à pressa à escola. Ralhamos à pressa porque a pressa deles é mais vagarosa do que a nossa. Conduzimos à pressa para ultrapassarmos a velhinha que guia sem pressa nenhuma. Abandonamos os filhos no colégio sem tempo para um beijo repenicado ou um abraço caloroso.  Quando os vemos afastar, cheios de pressa, temos pressa em nos culparmos pela pressa que os obrigámos a ter. Não pensamos muito porque temos de correr para o nosso emprego porque o rendimento depende da pressa da produção. Almoçamos à pressa com pressa de chegar ao lanche. Saímos do emprego à pressa para apanhamos rápido os miúdos para que despachem os TPCs à pressa. Fazemos o jantar à pressa porque a hora de deitar chega depressa demais para os miúdos. Planeamos o trabalho do dia seguinte à pressa, para descansarmos antes das 2 da manhã. Na pressa, temos pouco tempo para falar aos amigos, para jantar com os irmãos, para dedicar mais tempo aos pais.  É com essa pressa irracional que percorremos todos os dias o passadiço da vida. Mas o passadiço por vezes prega partidas à nossa pressa. Deixa-nos cair em alçapões inesperados, que forçam uma paragem na nossa fúria da pressa. Mergulhamos de forma abrupta num abismo que pensávamos estar longe. Sentimo-nos arrastados e arrasados pela queda. Quando pensamos estar sós, sentimos uma mão agarrada à nossa. Todas as outras pessoas continuam na pressa do passadiço, mas aquelas mãos não nos deixam cair mais fundo; fazem-nos sentir acompanhados no breu do alçapão. Por vezes conseguem impedir que desçamos mais fundo, outras vezes deixam-nos ir, mas acompanham-nos na descida.
No passadiço da vida todos os minutos contam; na escuridão do alçapão existem minutos que contam mais. Esses minutos são aqueles que nos suavizam a dor; nos acalmam ansiedades. Os minutos que compõem cada elo composto pelas mãos dos que nos seguram na descida.  Os minutos em que tomam conta dos nossos filhos e que os afastam do alçapão da dor; os minutos  em que se sentam na cadeira ao lado da cama e se está como é preciso estar, algumas vezes contando histórias, outras ouvindo histórias, outras simplesmente em silêncio; os minutos em que se movem influências, se agitam as águas para o barco continuar a andar; os minutos de conversa e de positividade nos momentos em que nos sentimos mais frágeis. Os minutos de rezas para sairmos dali a andar. Esses minutos contam mais do que todos os outros, simplesmente porque os sentimos nas mãos. Os outros minutos, os do passadiço da correria, são consumidos pela pressa de chegar e,… de partir rápido para outro lugar.
Sentimo-nos bafejados por termos essas mãos que se aconchegaram nas nossas, durante todos os minutos que permanecemos no breu do alçapão. Essas mãos, que em momento algum nos deixaram cair no abismo, fizeram-nos ter a certeza de que nos minutos mais importantes do que os outros, as nossas mãos permanecerão juntas, em todos os passadiços e alçapões que formos encontrando ao longo da vida.

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