domingo, 10 de junho de 2007

Vai uma bananinha?



Comemoramos hoje dia 10 de Junho o dia de Portugal e achei por bem escrever qualquer coisa relacionado com o tema. Depois de pensar algum tempo sobre a nacionalidade, a pátria, os símbolos, lembrei-me de… bananas(?). É que estava já com alguma larica de tanto pensar, que fui à cozinha e, ao olhar para as várias opções alimentares, decidi-me pelo ataque à banana. Estava aqui a comer a minha bananinha e a pensar como é bom comer bananas. Começa logo por ser fácil de descascar. Não é necessária faca nem martelo para se conseguir alcançar o conteúdo. Depois, o que se come é doce, generoso e palpável. Atentemos ao caso da romã. Para se conseguir ingerir uns vestígios desse fruto temos de cuspir centenas de pevides. Não é rentável; não sacia o apetite; o trabalho é muito e o resultado gustativo é pouco. A banana pode ser abordada sem qualquer tipo de inibição, uma vez que não tem qualquer pevide ou caroço para ficar presa no dente ou na glote. Come-se e pronto. Outro dos aliciantes da banana é que não se faz grande porcaria a comer. O diospiro por exemplo é muito doce e agradável, mas ficamos sempre com a sensação de nos terem espetado com um bolo de anos alaranjado na cara e nas mãos. Mas o que é que a banana tem a ver com o 10 de Junho? Aparentemente nada. Mas como me apeteceu comer o fruto enquanto me preparava para escrever sobre tão simbólico dia, achei que não deveria ignorar este sinal e tratar de descobrir na banana a essência da nacionalidade. Ao lançar um olhar mental sobre o património nacional consigo ver o sol encoberto pelas nuvens, o mar encoberto pelas montanhas, e o progresso encoberto pela…banana. Acabei de comer a banana e de repente senti-me eu próprio uma banana. Um verdadeiro processo simbiótico difícil de explicar. É difícil pensar com algum optimismo na causa nacional, quando nos sentimos bananas nas mãos (e no prato) dos nossos insaciáveis governantes. E porquê bananas? Porque eles fazem o que querem e não têm qualquer entrave à sua acção. Não existe um caroço ou pevide que lhes incomode a mastigação. Percebi agora a expressão “és um banana” atribuída a alguém que não dá luta; é esta a característica da banana: fácil de abrir e fácil de mastigar sem oferecer resistência. Com tanto absurdo que vamos vendo já seria altura de esboçarmos uma ténue reacção, um leve grito de revolta, …mas nada. O mais curioso é que os nossos governantes não se limitam a comer a banana à bruta; parece que gostam daquela receita de a esmagar com o garfo, pôr-lhe açúcar por cima, para aí sim comê-la à bruta. Parece que estou a ver um ministro para o outro: - Oh colega, não acha que já é demais! Já lhes congelámos as carreiras, já lhes reduzimos os serviços de saúde, já lhes aumentámos os impostos, e agora isto!?...os tipos vão-se passar! Ao que o outro responde: - Já agora deixa ver até onde estes bananas aguentam! E não é que eles aguentam muiiiito. Basicamente somos um povo de tipos porreiros; aquela designação de brandos costumes assenta-nos que nem uma luva. Também que país consegue fazer uma revolução de cravos? Qualquer revolução que se preze tem de ter uns tiros e umas lambadas. Nós até inventámos a canção da “Grândola Vila morena povo da fraternidade” e vá de fazer festinhas e dar abraços fraternos aos tipos que nos querem devorar. Isso mesmo! A avaliar pelas sondagens (sempre feitas de forma isenta) o governo voltaria a ganhar com maioria. Os bananas não se limitam a ser passivamente ingeridos, como demonstram a sua fraternidade e generosidade para com lateirão que o comeu, pondo à sua disposição mais uns cachos de primos e amigos. Só estou um pouco curioso para saber qual o açúcar que me vão pôr antes da garfada final…
Os nossos vizinhos espanhóis que não são de se deixarem esmagar no prato, quando se pegaram fizeram logo uma guerra civil das mais sangrentas da história mundial. Se lhes dissessem que um ministro arranjou um diploma esquisito e coisa e tal, que lhes iam dar cabo da qualidade de vida, desatavam logo a dar cabo da qualidade de vida dos governantes. Isto porque os tipos são ossos duros de roer enquanto nós somos bananas fáceis de comer. Será por isso, que Espanha já seja uma das maiores economias mundiais? Nããã! Eu, como português genuíno que sou, não defendo medidas extremas. Apenas gostaria que a banana que há em cada um nós, desse lugar, por uma vez na vida, a um fruto mais difícil de preparar e ingerir. Gostaria que tivéssemos um pouco de Romãs ou vá lá de… melancias, que dessem algum trabalho a quem as prepara e transmitissem algum cuidado a quem as mastiga.
Ao ver as imagens das comemorações do dia de Portugal, do orgulho de todos aqueles personagens de bandeira a tiracolo, dos discursos de ocasião sobre as grandes qualidades do povo português, e do facto de estarmos cada vez mais na cauda da Europa alegres e contentes, não pude de deixar de me lembrar do momento em que abri o caixote do lixo e lancei despreocupadamente a casca da banana que tão facilmente comi.

Um comentário:

vitorpt disse...

Caro Miguel,
este 10 de junho foi uma pasmaceira, pá... ainda por cima ao Domingo.
E o que mais me intriga é que lá se foram mais 30 medalhas de mérito, para aqueles portugueses que se vão da lei da morte libertando, que da imprensa cor de rosa libertados estão. Já reparaste que a maioria deles são desconhecidos do grande público? não deveria ser o contrário? não deveriam ser estes crânios os crónicos frequentadores das rádios e televisões públicas que todos os meses pagamos na conta da luz?
Pronto, está bem, os bananas no poder!