quinta-feira, 7 de junho de 2007

Problema de lateralidade

Hoje apetece-me escrever sobre política. Até aqui tudo normal, não fosse o facto de não perceber nada do tema. A minha dificuldade de compreensão da política deve-se basicamente a um problema de lateralidade. Passei toda a minha vida a ouvir falar de esquerda, direita, direita e esquerda que fiquei sem saber bem em que parada militar me encontrava. Sei que a esquerda está para a direita como o alto está para o baixo, o gordo para o magro, o cabeludo para o careca, o escuro para o claro ou o frio para o quente. As dúvidas surgem quando os extremos assumem características amovíveis e se cruzam. É o aparecimento do meio termo. Queres ser gordo ou magro? – bom,...nem muito gordo nem muito magro,... assim,assim! O “assim assim” é uma conjugação utilizada para quando não se sabe ou, se se sabe, não se quer saber. Quando se aponta o dedo a alguém e se dispara : - aquele gajo é de esquerda! , os sentimentos dividem-se e diferenciam-se ao longo dos tempos. Antes do 25 de Abril, era o mesmo que dizer que “aquele gajo comeu a mulher do vizinho, é um comuna!”; Durante o 25 de Abril, quereria dizer “aquele gajo deu de comer a 500 criancinhas, é um herói”; Há poucos anos essa afirmação representaria “aquele gajo escreve ou pinta, é um intelectual”; nos nossos dias, a mesma frase significaria “aquele gajo está a coçar as traças que tem nas costas, é um coitadinho...”. É o risco de se optar por um dos dois lados da barricada. Existem os que escolhem o frio, os que optam pelo quente, os que uma vez são frios e outras vezes são quentes e os que ficam pelo morno. Foi a pensar no morno, que se ergueram os dois maiores partidos políticos portugueses. Um diz que é de esquerda, outro mais à direita, mas ambos mais ou menos no centro, que é o local onde o vulgar cidadão se gosta de situar. Até as crianças têm essa noção do equilíbrio bem explícita na resposta à estúpida pergunta: - gostas mais da mamã ou do papá? Ora bem... a mamã dá-me a papa e faz-me festinhas quando me porto mal; o papá dá-me pastilhas elásticas e leva-me a passear de bicicleta...eu gosto mesmo é dos dois. É a resposta politicamente correcta. Só quando um dos dois é uma besta, é que o filho terá coragem de optar. Na política, os partidos assumidamente de direita ou de esquerda, só ocuparão um dia o poder se o país chegar a um estado de caos. Sobretudo tiveram azar, porque alguém chegou à cadeira do centro antes deles. E como quem vai ao ar perde o lugar, lá foram eles,... cada um para o seu canto da sala, esperar que um dia a professora repare neles.
Penso que a maioria dos cidadãos prefere o “tépido” por falta de conhecimento preciso das ideologias políticas, facto perfeitamente compreensível pelo fenómeno “camaleónico” que assalta a maioria dos partidos, senão vejamos: Para o partido do poder, as obras são muitas, os avanços são significativos, as reformas são imensas e o crescimento é enorme. Para o principal partido da oposição as obras não existem, os avanços são fictícios, as reformas permanecem na gaveta e o crescimento é inverso. Os outros partidos esbracejam mas ninguém os ouve. Quando muda o poder, todo o discurso permanece o mesmo, independentemente da ideologia. A aferir pela quantidade de desertores de partidos de esquerda para os de direita e vice-versa, a lateralidade ideológica vagueia de acordo com a cor da vegetação. Sinto-me como um turista português nas ruas de Londres, onde tudo funciona ao contrário, a direita é a esquerda, a esquerda a direita, a direita e a esquerda mais ou menos no centro(?). Muito pessoalmente penso que isto de direita, esquerda e centro é uma grande treta.
A política deveria ser baseada mais no acto de bem governar e menos na arte de bem representar...partidos e sobretudo não perder tempo com questões de lateralidade. Os “jobs” deveriam ser dados aos “boys” pela competência e não pela fidelidade ao partido. Daí que o cenário político seria muito mais credível... sem partidos. Que bom seria votar para as legislativas no José Francisco para a pasta da cultura, na Maria Antonieta para o ministério da saúde ou no Joaquim Manuel para o pelouro das finanças. Pessoas independentes com formação específica, com ideias claras sobre a acção a desenvolver e que na sua actividade profissional tivessem revelado sucesso e capacidade empreendedora. Pessoas que cumprissem horários, que apresentassem obra feita, que assumissem insucessos, que não fizessem promessas irreais, que fossem boas gestoras dos recursos existentes....Pura utopia!
Hoje era o dia em que me apetecia escrever sobre política, mas já não me apetece. Como tal, não me resta outra alternativa senão apagar o computador e sair por esta porta que tenho do meu lado esquerdo,...ou será do direito?...

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