terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Década "Dodot"


Nunca fui muito de fazer balanços de épocas. Também nunca me prendi ao conceito de década. No entanto, tenho de admitir, que às vezes dá jeito esse agrupamento dos 10 longos anos numa única década. Já os tipos que inventaram o sistema decimal pensaram nisso. Não precisa de se dizer o que fez ano a ano, podendo-se resumir as sensações que, de uma forma geral, se teve nessa década. Quando falamos por exemplo na década de 60, vem-nos à memória a loucura musical dos Beatles, o movimento hippie, a chegada do Homem à lua, a luta de Martin Luther King contra a segregação racial americana. Para nós portugueses, a década de 70 ficou fortemente marcada pelo fim das guerras Coloniais e a revolução de Abril. Poderíamos ir por aí fora encontrar traços marcantes de evolução em cada época, facilmente identificáveis. Acontece que, num exercício de memória resumida, decidi avançar um pouco mais e pôr-me a pensar sobre os aspectos relevantes desta última década que vivemos, a tal década 10. Para me facilitar a vida recorri ao método infalível das dietas milagrosas de emagrecimento do telemarketing do “Antes” e “Depois”. Basicamente a ideia seria pensar no que era o país há 10 anos atrás e no que se transformou até hoje. Pensei, pensei muito, voltei a pensar mais um bocadinho e consegui resumir a década, num termo também ele resumido:”Uma bela trampa”. Pensarão incrédulos alguns leitores, “Mas, mas,… trampa, não é aquilo que os bebés fazem à bruta na fralda quando são pequeninos?”. É isso mesmo, “aquela massa viscosa, acastanhada e nauseabunda, produzida por intestinos revoltados pelos leites com suplementos vitamínicos”. “Não achas que estás a ser demasiado rude? A década não foi assim tão acastanhada e malcheirosa; Olha! Foi nesta década que nasceu o filho do Ronaldo, por exemplo…ou que o Mourinho ganhou a 2ª Liga dos Campeões, foram bons acontecimentos…”. Para explicar melhor como cheguei à “Bela trampa”, teremos de passar um breve olhar pelos indicadores de desenvolvimento social e humano: Esta foi a década da impunidade na justiça, em que todos os arguidos se riem e se escondem debaixo de processos sem fim …à vista. Foi a década da multiplicação de ladrões e homicidas, que perceberam a anedótica segurança do país. Foi a década em que a escola passou de um local de ensino para um local de bandalheira e de degradação de valores educativos fundamentais. Foi a década do desemprego e do emprego trimestral …a recibos verdes. Foi a década das virtudes das novas tecnologias, da educação sexual com acesso gratuito a sites pornográficos, por miúdos que não sabiam o que era a vagina, mas ficaram a saber como se faz sexo anal acompanhado de gemidos “Isso,isso,isso”. Foi a década da pouca-vergonha política, da mentira gratuita, dos favores às claras. Foi a década das dívidas, que ninguém paga, nem quer saber quem paga. Foi a década de afogar os contribuintes em impostos, reduzir-lhes os salários e aumentar-lhes de forma obscena todos os bens de consumo. Foi a década da falta de respeito pelo próximo, onde qualquer miúdo pode chamar um idoso de “Ó velho!” sem levar dois tabefes na fronha. Como poderemos então resumir esta década senão como “Uma Bela Trampa”. Não é rude; é adequado. Até coloquei lá a “Bela” para amenizar o choque. Mais rude poderiam soar sinónimos como “Uma bela merda”, “uma bela defecação”, “uma bela bosta”, “Um belo esterco”. Achei que ficaria aqui melhor a trampa. Quer dizer a mesma coisa, ou seja, “Massa viscosa, acastanhada, com cheiro nauseabundo” , mas não soa tão mal. Pensando bem, deveria soar mal. Soar mesmo muito mal, para que se perceba a magnitude da trampa que representou esta década em termos sociais. Mas o que mais me incomoda, a par com o cheiro, é o facto dos responsáveis não admitirem com coragem os dejectos que produziram. O bebé, quando faz, admite logo; até faz um sorriso. Depois chora, para que lhe limpem o rabo. E deverá ser este, agora, o ponto de partida. A minha atitude é positiva, na esperança de que esta década que aí vem, se possa chamar de “Década Dodot”. Não a associada às fraldas, esse objecto que apenas serve para esconder a trampa e ser escondido sujo, dentro de uma lixeira. Refiro-me aos toalhetes Dodot, esses sim, têm o condão de limpar e perfumar o rabinho da criança, eliminando toda a porcaria produzida. Gostaria de ver alguém com essa capacidade Dodot, de limpar a trampa deixada durante esta malfadada década. Temo, no entanto, que, tal como os pais se acotovelam empurrando para o outro, a árdua tarefa de higiene “Hoje é a tua vez de limpar”, não apareça ninguém, que dê o corpo ao manifesto e, sem qualquer tipo de pudor, grite de uma vez por todas: “Passem-me os toalhetes! que eu vou limpar toda esta trampa!...

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